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Rússia corta gás à Europa em meio a guerra e disputa por preços

3 de setembro, 2022

O anúncio ocorre logo após o G7 concordar em limitar o preço do petróleo russo em apoio à Ucrânia A sede da Gazprom em São […]

Rússia corta gás à Europa em meio a guerra e disputa por preços
Imagem de SatyaPrem por Pixabay

O anúncio ocorre logo após o G7 concordar em limitar o preço do petróleo russo em apoio à Ucrânia

A sede da Gazprom em São Petersburgo vista de um oleoduto — Foto: EPA/Via BBC

A sede da Gazprom em São Petersburgo vista de um oleoduto — Foto: EPA/Via BBC

Ao contrário do anunciado, o gasoduto que liga Rússia e Alemanha não será reaberto neste sábado (3), segundo a Gazprom, empresa estatal de energia russa.

A companhia disse que encontrou um vazamento de óleo em uma das turbinas do gasoduto Nord Stream 1, o que significa que ele ficará fechado por tempo indeterminado.

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Os dutos já estavam interditados nos últimos três dias para, segundo a Gazprom, a realização de serviços de manutenção.

De acordo com o jornal “Financial Times”, a Gazprom já estava reduzindo o envio de gás pelo Nord Stream 1 desde junho. Nesses meses, o suprimento de gás chegou a ficar em apenas 20% do volume normal.

A notícia mais recente surge em meio a temores crescentes de que os moradores da União Europeia (UE) não poderão arcar com os custos do aquecimento durante o próximo inverno.

A Gazprom divulgou uma foto do vazamento de óleo — Foto: Reprodução/Gazprom/Via BBC

A Gazprom divulgou uma foto do vazamento de óleo — Foto: Reprodução/Gazprom/Via BBC

Os preços da energia dispararam desde que a Rússia invadiu a Ucrânia — e a escassez de suprimentos pode aumentar ainda mais as contas de energia.

Antes da invasão da Ucrânia, a Rússia fornecia 40% do gás utilizado no resto do continente europeu.

A Europa está tentando encontrar novas alternativas à energia russa em um esforço para reduzir a capacidade de Moscou de financiar a guerra.

Mas a transição para outros fornecedores pode não ocorrer com a rapidez necessária.

O presidente do Conselho da UE, Charles Michel, disse que o recente anúncio “infelizmente não é uma surpresa”.

“O uso do gás como arma não mudará a determinação da UE. Vamos acelerar o caminho para a independência energética. Nosso dever é proteger os cidadãos e apoiar a liberdade da Ucrânia”, escreveu no Twitter.

O governo russo nega usar o fornecimento de energia como uma espécie de arma econômica em retaliação às sanções impostas após a invasão da Ucrânia.

Moscou aponta que as sanções econômicas atrasaram a manutenção de rotina do Nord Stream 1. A UE, por sua vez, entende que essa justificativa é apenas um pretexto.

O regulador de rede da Alemanha, o Bundesnetzagentur, disse que o país está agora mais preparado para o fim do fornecimento de gás russo, mas pediu que cidadãos e empresas reduzam o consumo de energia nos próximos meses.

O anúncio da Gazprom veio logo depois que as nações do G7 concordaram em limitar o preço do petróleo russo como uma forma de apoio à Ucrânia.

O corte no suprimento de gás acontece logo após o G7 anunciar uma política que limita o preço de venda do petróleo russo — Foto: Getty Images/Via BBC

O corte no suprimento de gás acontece logo após o G7 anunciar uma política que limita o preço de venda do petróleo russo — Foto: Getty Images/Via BBC

O G7 (Grupo dos Sete) é composto por Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão.

A introdução de um teto de preços nesse setor significa que os países que adotarem essa política poderão comprar apenas produtos petrolíferos russos transportados por via marítima que sejam vendidos no limite do valor estipulado (ou abaixo dele).

A Rússia diz que não exportará petróleo para países que participarem dessa nova política.

O gasoduto Nord Stream 1 se estende da costa russa perto da cidade de São Petersburgo até o nordeste da Alemanha e pode transportar 170 milhões de metros cúbicos de gás por dia.

Essa imensa estrutura é operada pela empresa Nord Stream AG, cujo acionista majoritário é a Gazprom.

A Alemanha também já havia apoiado a construção de um gasoduto paralelo — o Nord Stream 2 — mas o projeto foi interrompido depois que a Rússia invadiu a Ucrânia.

A Gazprom disse que a falha foi detectada na estação de compressores do terminal de Portovaya e a avaliação do problema aconteceu em parceria com técnicos da empresa Siemens.

Os representantes da estatal informaram que a correção de vazamentos de óleo nos principais motores só pode ser feita em oficinas especializadas, que foram prejudicadas pelas sanções econômicas anunciadas por vários países durante a guerra.

No entanto, a Siemens contrapôs que “tais vazamentos normalmente não afetam o funcionamento de uma turbina e podem ser vedados no próprio local”.

“É um procedimento de rotina dentro do escopo dos trabalhos de manutenção”, divulgou a empresa.

Esta não é a primeira vez desde a invasão da Ucrânia que o gasoduto Nord Stream 1 foi fechado.

Em julho, a Gazprom cortou completamente o fornecimento, alegando “uma pausa para manutenção”.

Os trabalhos foram reiniciados novamente dez dias depois, mas em um nível muito reduzido.

Falando à BBC de Berna, na Suíça, a economista e analista de energia Cornelia Meyer avalia que a paralisação do suprimento de gás terá um grande impacto econômico.

“Esse anúncio tem enormes repercussões para o gás na Europa, que está cerca de quatro vezes mais caro do que era há um ano. A crise do custo de vida piorará, porque não é apenas o gás que aumenta de preço”, disse.

“O gás vira fertilizante e é usado em muitos processos industriais, então isso afetará os custos e os empregos.”

Análise de Theo Leggett, correspondente de Negócios da BBC News

O fluxo de gás pelo Nord Stream 1 já havia sido reduzido a um “gotejamento relativo”. Agora, mais uma vez, foi interrompido completamente.

Tudo está relacionado a um vazamento de óleo, afirma a Gazprom — que anteriormente atribuiu os fluxos reduzidos nos meses anteriores a questões técnicas relacionadas às sanções econômicas.

A Europa, no entanto, acredita que o presidente Vladimir Putin utiliza o fornecimento de gás e limita deliberadamente os fluxos através do gasoduto para aumentar os preços, a fim de testar a determinação dos críticos da Rússia.

O resultado, como já vimos, é o aumento dos custos de energia — com empresas e consumidores pagando um preço muito alto.

O momento de mudança na Gazprom é certamente interessante. Ele ocorre no mesmo dia em que o G7 anunciou medidas para limitar o preço das exportações de petróleo da Rússia.

O anúncio também acontece logo após a Alemanha — que depende fortemente do gás russo — revelar que os estoques de inverno estavam enchendo mais rápido do que o esperado.

Um cínico poderia interpretar que esta era a última oportunidade de apertar o parafuso, com o objetivo de infligir o máximo de dano nos meses mais frios que virão pela frente.

Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62779458

Fonte: Por BBC