VARIEDADES

Saiba qual é o amuleto de Leandro Vieira, carnavalesco da Imperatriz, atual campeã da Avenida

6 de fevereiro, 2024 | Por: Agência O Globo

Artista não larga mão de um simples adereço, que provoca surpresa por ser um especialista em criar fantasias elaboradas

Por que um especialista em criar fantasias tão elaboradas para a Avenida está sempre com aquele chapéu de pirata basicão, adereços dos mais comuns espalhados pelos corredores estreitos da Saara, a Meca do comércio carnavalesco carioca nestes tempos de folia?


Esta é uma pergunta que , à frente da atual campeã da Avenida, a escola de samba Imperatriz Leopoldinense, já ouviu bastante.


Dono de cinco títulos em dez carnavais no Grupo Especial e Acesso, o artista, formado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio, tem um motivo especial para guardar o adorno do lado esquerdo do peito: ele se tornou seu principal amuleto durante a competição carnavalesca.

Tudo começou em 2020. No ano em que vestiu o chapéu pela primeira vez na Sapucaí, Leandro foi campeão pelo Grupo de Acesso e responsável por devolver a Imperatriz ao Grupo Especial.

Quando a folia de 2023 apontava no calendário, ele deu novamente de cara com o dito cujo ao remexer no baú onde mantém as fantasias que usa no carnaval de rua. Não conseguiu fugir.

– Pensei: vou suar com ele por aí para energizá-lo e depois vou para a Avenida. Aí, a Imperatriz foi campeã de novo… Ou seja, esse chapéu deve ter algum mistério. Passei a usá-lo todas as noites em que meu trabalho é julgado.

Leandro arrisca uma resposta para explicar o tal mistério, ou melhor, a boa sorte:

– Comprei o chapéu de pirata nas ruas do Saara. Antes da Avenida, sempre fui com ele ao (bloco) Cordão do Boitatá, ao Céu na Terra, ao Prata Preta e ao meu bloco, o Fuzuê da Ilha. É um chapéu carregado da energia mágica da rua. É como se eu levasse essa energia da rua para o chapéu e para a Sapucaí – acredita ele que, por orientação espiritual, apagou as caveiras que estampavam as abas e costurou nelas a aliança de casamento dos pais, um anel de sua avó e uma pena do papagaio do avô.

Quem conhece o carnavalesco apenas como um dos grandes nomes campeões da Marquês Sapucaí, pode não saber, mas Leandro é também um intenso folião raiz fora da Avenida, um brincante de diversos blocos do Rio.

– Antes da Avenida, meu primeiro gosto foi pelo carnaval de rua. E sempre fiz minhas fantasias para brincar. Frequento o Cordão do Boitatá desde que saía na Rua do Mercado (Centro do Rio) há 28 anos. Fazia roupa para brincar no Bola Preta, no Cacique de Ramos. Nunca perdi o desejo de brincar na rua e vestir fantasias. Hoje, uso materiais que sobram no barracão, junto penduricalhos e incremento com adereços da Saara.

Brincar na rua, livre de cobranças e responsabilidades, é libertador para o carnavalesco, que ano passado saiu por aí vestido de Gal Tropical e, este ano, de Clara Nunes.

– O grande barato do carnaval de rua é a não preocupação de contar o enredo. Cada folião é autor da sua fantasia, cada um enreda a seu modo. Se vestir para brincar na rua traz a possibilidade do encantamento e do riso.

Se a gente ligar as duas pontas, a ideia do chapéu encantado das ruas orna com o enredo 2024 da Imperatriz. A atual campeã do carnaval carioca aposta as fichas na cultura cigana.

Com o mote “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”, a Verde e Branco de Ramos vai contar a história de um cordel escrito há mais de 100 anos pelo poeta paraibano Leandro Gomes de Barros.

Para o Leandro carnavalesco, o enredo olha para o que há de mais simples, no sentido popular, “das coisas que estão na cabeça do povo, livre do academicismo e próximo à cultura que emerge das vocações populares brasileiras”.

– Pensamos no mote a partir do recorte do povo do subúrbio, que deseja a sorte – diz ele para, em seguida, explicar melhor. – Sabe quem lê o horóscopo do dia? Quem pensa que um sonho pode ser indício de que as coisas vão melhorar? Essa coisa de jogar para o universo os nossos desejos, festejar o sol como se esses elementos da natureza fossem capazes de mudar as nossas vidas… É um olhar para o país desse povo brasileiro que bota fé nas coisas.

E quem não bota fé que o chapéu de pirata tem poder?

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