Ele voltou. Novamente. Talvez? Nos últimos 18 meses em que esteve no Al Hilal, Neymar participou de apenas sete jogos. As seguidas lesões são o principal motivo para frustração de uma das contratações mais ambiciosas da Saudi Pro League. Mas com o futebol saudita retornando após uma pausa de um mês, o atacante precisa voltar à ação.

Recentemente, o atleta esteve em campo em um amistoso e chegou a balançar as redes. Parecia pronto para retornar aos gramados no jogo desta terça-feira contra o Al Ittihad, pelas quartas de final da Copa do Rei, equivalente à Copa do Brasil. Mas o Al Hilal anunciou que Neymar perdeu o último treino devido a um problema abdominal.

No momento da declaração, não estava claro se ele iria jogar ou não. E assim se resume seu tempo na Arábia Saudita: muita promessa, muitos sorrisos para as câmeras e pouquíssima ação.

Mas é verdade que, seria injusto culpar Neymar. Após sua transferência do Paris Saint-Germain em agosto de 2023, ele jogou apenas cinco vezes pelo Al Hilas antes de sofrer uma lesão no ligamento cruzado anterior (LCA) durante um amistoso internacional em outubro. Ficou um ano longe dos gramados, fazendo reabilitação e se recuperando, até que o clube saudita anunciou seu retorno: “ele voltou”.

Ele voltou, mas não por muito tempo. Após 29 minutos de atuação, no começo de novembro, sofreu nova lesão e foi afastado outra vez. Não era bem assim que o clube e a liga local pensavam que seria a estadia do astro brasileiro, após pagar cerca de R$ 909 milhões por ano, além da taxa de transferência de aproximadamente R$ 606 milhões para o PSG.

Sem atuar por tanto tempo, seu rosto está fora das placas de publicidade de Riad, onde há anúncios da SPL. Enquanto isso, colegas como Cristiano Ronaldo, Karim Benzema e Riyad Mahrez têm presenças de destaque na campanha de marketing para a Copa do Mundo e 2034, que será disputada na Arábia Saudita.

Há uma sensação de que, embora ninguém esteja se iludindo sobre o fato de que todos esses jogadores não estão lá apenas pelo dinheiro, Neymar não comprou o projeto saudita — pelo menos publicamente — tanto quanto os outros.

Neymar assinou um contrato de dois anos, com fim no meio do ano, então o homem que ainda está entre os jogadores mais celebrados do mundo e que se transferiu por taxas combinadas de mais de R$2,2 bilhões em sua carreira, estará, no estado atual, disponível gratuitamente.

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E agora, o que fazer?

Existem duas versões. A curta é que nenhuma decisão foi tomada ainda sobre o futuro de Neymar — uma fonte próxima ao jogador, que, como outras consultadas para este artigo, falou anonimamente para proteger as relações, insistiu que o foco está em ele se recuperar e realmente jogar futebol.

A versão longa é que existem uma série de opções diferentes, não apenas em campo, mas, talvez mais surpreendentemente e intrigante, fora dele também. A primeira coisa que devemos tratar é o restante da temporada 2024-25.

Há quem diga que o Al Hilal poderia cancelar seu contrato antecipadamente — todos consideram essa movimentação como um fracasso, e ele encontraria outro lugar para jogar. Mas a sensação que se tem ao falar com pessoas do futebol saudita e com aqueles próximos a Neymar é que ele cumprirá seu contrato.

Do ponto de vista dele, sair agora significaria abrir mão de uma grande quantia: ele ainda deve receber cerca de R$ 454 milhões, e embora ele não ceda toda essa quantia em qualquer acordo de rescisão, há uma forma garantida de garantir que ele receba tudo.

E do ponto de vista do clube, há a Copa do Mundo de Clubes, em junho e julho para considerar: o Al Hilal se qualificou com base na vitória na Liga dos Campeões da Ásia de 2020-21, e teve um sorteio bastante atraente, caindo no mesmo grupo que o Real Madrid, campeões da Europa e do mundo. Esse torneio nos Estados Unidos representa um excelente palco global para a SPL, então essa pode ser a última chance para o clube, a liga e o Fundo de Investimento Público (PIF) do estado de extrair o máximo valor desse investimento.

Mas, embora ele provavelmente permaneça, quanto futebol ele jogará nos próximos meses é outra questão: pode não ser tão simples quanto ele voltar ao time para os jogos restantes da temporada, pois há uma questão administrativa considerável a ser resolvida.

Devido à lesão no LCA, Neymar não foi registrado para a SPL na primeira metade da temporada (suas únicas duas aparições foram na Liga dos Campeões), e o Al Hilal atualmente tem sua cota total de oito estrangeiros. Se eles quiserem que Neymar jogue no futebol local, terão que retirar ou vender um dos seguintes atletas: Kalidou Koulibaly, Malcom, Renan Lodi, Yassine Bounou, Ruben Neves, Aleksandar Mitrovic, Joao Cancelo ou Sergej Milinkovic-Savic.

Isso não será um problema para a Copa do Rei, nem para a Liga dos Campeões. O Al Hilal tem dois jogos de grupo restantes no próximo mês, mas já se qualificou para a fase de mata-mata, o que significa que há um mínimo de quatro jogos a serem disputados nesse torneio.

Vale também destacar que o Al Hilal parece estar se saindo muito bem sem ele.

Eles venceram o título da SPL 2023-24, invictos e 14 pontos à frente, marcando 101 gols em 34 jogos, conquistaram a Copa do Rei e chegaram às semifinais da Liga dos Campeões, e estão em segundo lugar na liga nesta temporada, dois pontos atrás do Al Ittihad. Entre suas grandes contratações, o menos chamativo, mas de fato mais eficaz, Mitrovic tem sido o principal jogador, marcando 12 gols na liga até agora, enquanto o ex-jogador do Barcelona, Malcom, tem se destacado pelos dribles e fintas, e o ex-jogador do Wolves, Neves, tem controlado o meio-campo. Este último passou por uma cirurgia no joelho no início de novembro, mas espera-se que volte neste mês.

Tudo isso significa que é plausível que Neymar simplesmente fique de fora dos próximos 21 jogos da SPL, jogue apenas nas próximas partidas da Copa do Rei, na Liga dos Campeões e, depois, na Copa do Mundo de Clubes. Depois disso, apertarão as mãos e ele será livre para ir para outro lugar como agente livre na janela de verão. Mas para onde ir?

Comecemos pela opção menos provável após o término de seu contrato: ficar na Arábia Saudita.

Embora o prestígio de ter um jogador da estatura global de Neymar seja extremamente atraente para a SPL, as pessoas que financiam esse projeto ainda esperam algum retorno de seu imenso investimento. O fato de ele ter jogado tão pouco em suas duas temporadas até agora certamente significa que eles não lhe ofereceriam outro grande contrato quando ele completar 33 anos em um mês.

A teoria mais comum é que Neymar retornará ao clube onde fez seu nome: dependendo de quem você pergunte, a possibilidade de ele retornar ao Santos é ou muito provável ou praticamente certa. Foi no Santos que ele surgiu para o futebol, onde se tornou a grande esperança dos brasileiros no início dos anos 2010 e onde ajudou a ganhar a Copa Libertadores em 2011, antes de transferir-se para a Europa com o Barcelona em 2013.

É também onde ele ainda é considerado um herói. Ele ainda tem uma casa em Santos, e tem sido visto com frequência nos jogos do clube, postado sobre eles várias vezes nas redes sociais enquanto jogava por outros times, e o Santos também tem feito dele parte de sua estratégia de mídia social, aproveitando sua popularidade para seu próprio crescimento.

Neymar disse em uma entrevista de 2019 ao Fox Sports que “com certeza, quando eu voltar para o Brasil, jogarei novamente pelo Santos”.

O clube não está exatamente sendo discreto.

“Somos claros e objetivos, o pai dele e a equipe dele sabem disso”, disse o presidente do Santos, Marcelo Teixeira, à imprensa, sobre Neymar após a confirmação de seu retorno à Série A do Brasil em novembro. “Eles me conhecem, conhecem o Santos. Temos que esperar, porque ele tem um contrato ativo.”

Isso faria sentido em um nível emocional, e teoricamente poderia ser a forma perfeita de fechar sua carreira, mas pode haver desvantagens. O fato de o Santos ter enfrentado dificuldades recentemente e ter passado algum tempo na segunda divisão significa que haveria uma pressão enorme sobre Neymar para levar os oito vezes campeões brasileiros e três vezes vencedores da Copa Libertadores de volta à glória rapidamente.

Talvez a opção mais intrigante não seja apenas voltar ao Santos para jogar, mas comprar ou investir no clube. A liberalização das leis de propriedade do futebol brasileiro em 2021 permite que alguém como Neymar faça isso.

O ídolo Ronaldo recentemente comprou e posteriormente vendeu o Cruzeiro, em Belo Horizonte, então há precedentes para jogadores ex-profissionais entrarem no jogo da propriedade. Não é particularmente caro, relativamente falando: Ronaldo eventualmente vendeu sua participação de 90% no Cruzeiro por cerca de R$ 600 milhões, enquanto o co-proprietário americano do Crystal Palace, John Textor, não pagou nada diretamente para assumir o controle do Botafogo, sob a condição de investir cerca de R$ 606 milhões e ajudar a pagar a dívida do clube carioca.

Levando tudo isso em consideração, várias fontes sugeriram que Neymar poderia assumir ou investir no clube paulista. E como mencionado acima, o Santos só voltou à elite nacional após uma temporada difícil, mas é um dos clubes brasileiros identificados como atraentes para investidores potenciais.

No entanto, isso não aconteceria imediatamente.

O Santos ainda é uma organização recreativa do antigo estilo e, para ser comprado, o clube precisaria ser convertido em uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), a estrutura que permite que qualquer pessoa compre até 90% das ações — um processo que não é sempre simples e levará algum tempo. Neymar provavelmente também não seria um benfeitor único, provavelmente sendo a figura principal de um grupo de investidores. Quando questionado pela The Athletic, uma fonte próxima ao jogador chamou essa possibilidade de “fofoca”, mas não negou que isso poderia acontecer.

O Santos não é sua única opção, no entanto.

Neymar já falou várias vezes sobre seu carinho por outro clube do Brasil, o Flamengo. Em junho do ano passado, ele foi visto assistindo a um jogo contra o Grêmio, e postou uma foto usando uma camisa do rubro-negro com o nome e número do atacante Gabriel Barbosa. Esse foi um tópico frequente para o ex-presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, que disse no Charla Podcast em julho: “Eu ando pela rua e as pessoas me perguntam quando vamos contratar o Neymar. Eu digo: ‘Pessoal, o Neymar ganha mais por mês do que dois salários do Flamengo’.”

Houve uma breve agitação esta semana quando o Coritiba, um clube da segunda divisão brasileira, anunciou que Neymar assinaria com eles, mas isso acabou sendo o resultado de alguns brincalhões que hackearam o site deles.

Outro clube frequentemente mencionado para a The Athletic como destino potencial é o Inter Miami, da MLS, onde Neymar ser reuniria com seus antigos colegas de Barcelona, Lionel Messi e Luis Suárez. O Miami certamente tem ambições e não hesitaram em pagar salários que atrairiam estrelas grandes, mas ligeiramente fora de forma.

“A palavra-chave é se ele ficar disponível”, disse o diretor geral do Miami, Jorge Mas, ao GiveMeSport em dezembro. “Ele é um jogador do Al Hilal agora. Ele não está disponível para nós. Eu sempre disse que aspiramos trazer grandes jogadores para nossa equipe. Temos muitas limitações de elenco, mas temos um orçamento ilimitado.”

Outros não foram tão receptivos. Leila Pereira, presidente do Palmeiras, campeã frequente do Brasil e da América do Sul nesta década, disse sobre a possibilidade de contratar Neymar: “Eu quero investir em alguém que possa chegar imediatamente, que possa começar amanhã se o técnico decidir. O Palmeiras não é um departamento médico”.

Parece haver pouco interesse em outros lugares. O Barcelona tentou trazer Neymar de volta algumas vezes depois de vendê-lo ao PSG em 2017, mas eles não conseguem registrar os jogadores que já têm, sem mencionar trazer alguém que custaria tanto quanto Neymar. O Chelsea fez consultas quando ele saiu de Paris para o Al Hilal, mas não era nada especialmente sério e eles seguiram em frente.

E então, há sua carreira internacional.

Seria fácil pensar que a seleção brasileira já superou Neymar. Este é o momento de Vinicius Júnior. Além disso, outra geração de jovens atacantes — Endrick, Rodrygo, o próximo jogador do Chelsea, Estevão Willian — já se estabeleceu ou está surgindo.

Será que a era de Neymar na seleção brasileira acabou quando ele se transferiu para a Arábia Saudita? O Brasil ainda precisa dele? O Brasil ainda o quer? As respostas, por ordem, são: não, sim e enfaticamente sim.

Jogar na SPL não significa necessariamente o fim da carreira internacional de alguém. Vários jogadores baseados na Arábia Saudita brilharam no Campeonato Europeu do ano passado: N’Golo Kanté (França), Aymeric Laporte (Espanha), Merih Demiral (Turquia). Houssem Aouar continuou jogando pela Argélia, Franck Kessie pela Costa do Marfim, e o colega de Neymar no clube, Bono, pelo Marrocos. Se não fosse pela lesão no joelho, ele ainda seria um jogador regular pelo Brasil e provavelmente teria estado na seleção da Copa América do ano passado.

Quem duvida que ele possa retornar ao cenário internacional subestima drasticamente o respeito que ele ainda tem no Brasil, e entre os jogadores da seleção. A maioria dessa geração mais jovem cresceu idolatrando Neymar, e apesar de não estar disponível para jogar, ele foi uma figura de destaque naquela Copa América de 2024 nos Estados Unidos. Rodrygo, que usou a famosa camisa 10 do Brasil no torneio, disse que estava apenas “aquecendo para Neymar.”

E enquanto algumas vitórias recentes melhoraram um pouco as coisas, a campanha do Brasil nas eliminatórias para a Copa de 2026 tem sido um desastre. O técnico Dorival Júnior precisa de toda ajuda que puder obter.

“Eu gostaria que ele retornasse à seleção em um momento em que a equipe possa apoiá-lo”, disse Dorival, quando questionado sobre Neymar em novembro. “Espero que isso aconteça novamente em março ou no próximo ano. Tudo o que queremos é que ele esteja totalmente apto para fazer o seu melhor.”

A carreira de Neymar tem sido curiosa

Alguns dirão que foi uma decepção, que ele nunca realmente correspondeu às expectativas. Mas isso é um problema das nossas expectativas, e não uma falha em Neymar.

Ele surgiu em um momento em que foi nomeado como a próxima grande esperança do futebol brasileiro — a única esperança, na verdade. Se ele tivesse surgido quando Ronaldo, Ronaldinho, Kaká ou Rivaldo estavam em seus respectivos picos, talvez as pessoas não tivessem esperado tanto dele.

Ele ganhou medalha de ouro olímpica, a Liga dos Campeões da UEFA, a Copa Libertadores, dois títulos de liga na Espanha e cinco na França. Também foi um jogador brilhante e emocionante de assistir por quase 15 anos; e dependendo da sua tolerância para suas “travessuras” em campo (o que também deve ser atenuado pelo fato de que ele regularmente levava pancadas durante os jogos), ele foi, no mínimo, um grande positivo estético para o futebol.

Se sua carreira terminar assim, marcada por lesões, isso será uma enorme pena.

Mas talvez ainda haja um último capítulo glorioso, sentimental ou emocional para a história de Neymar.

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BS20250107172748.1 – https://oglobo.globo.com/esportes/noticia/2025/01/07/santos-miami-com-messi-ou-ficar-no-al-hilal-o-que-esperar-do-proximo-passo-na-carreira-de-neymar.ghtml