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Se Bolsonaro pedir ajuda a Orbán a resposta será positiva’, diz analista húngaro

26 de março, 2024 / Por: Agência O Globo

Em Budapeste, o verdadeiro escândalo foi o vazamento das imagens internas da sede diplomática em Brasília; segundo Sándor Gyula Nagy, professor da universidade de Corvinus, o governo de Orbán deverá se pronunciar em algum momento

Se Bolsonaro pedir ajuda a Orbán a resposta será positiva’, diz analista húngaro
Sándor Gyula Nagy, professor da Universidade de Corvinus, em Budapeste — Foto: Arquivo pessoal

Se o ex-presidente Jair Bolsonaro solicitar asilo ao governo do presidente da Hungria, Vikton Orbán, a resposta será positiva. A afirmação foi feita pelo analista húngaro Sándor Gyula Nagy, professor da universidade de Corvinus, uma das mais importantes de Budapeste. Nagy é especialista em América Latina, conhece o Brasil e, mais especificamente, a embaixada da Hungria em Brasília.

Na época em que foi vice-diretor de um instituto vinculado ao Ministério das Relações Exteriores da Hungria visitou o Brasil e conhece como poucos a relação entre Bolsonaro e Orbán. “Se Bolsonaro pedir ajuda Orbán a resposta de Orbán será positiva, eles são aliados, diria até que amigos”, afirmou o analista húngaro ao Globo. Em Budapeste, acrescentou, a notícia sobre os dois dias que o ex-presidente brasileiro passou na embaixada da Hungria em Brasília foi publicada por importantes meios de comunicação, mas o verdadeiro escândalo foi o vazamento das imagens internas da sede diplomática. “Esse vazamento representa um problema de segurança nacional”, frisou o analista.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Se o ex-presidente Jair Bolsonaro solicitar asilo diplomático ou político ao governo do presidente da Hungria, Vikton Orbán, a resposta será positiva. Essa foi a resposta dada, com total certeza, pelo analista húngaro Sándor Gyula Nagy, professor da universidade de Corvinus, uma das mais importantes de Budapeste. Nagy é especialista em América Latina, conhece o Brasil e, mais especificamente, a embaixada da Hungria em Brasília. Na época em que foi vice-diretor de um instituto vinculado ao Ministério das Relações Exteriores da Hungria visitou o Brasil, e conhece como poucos a relação entre Bolsonaro e Orbán. “Se Bolsonaro pedir ajuda Orbán o ajudará, eles são aliados, diria até que amigos”, afirmou o analista húngaro ao GLOBO. Em Budapeste, acrescentou, a notícia sobre os dois dias que o ex-presidente brasileiro passou na embaixada da Hungria em Brasília foi publicada por importantes meios de comunicação, mas o verdadeiro escândalo foi o vazamento das imagens internas da sede diplomática. “Esse vazamento representa um problema de segurança nacional”, frisou o analista.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

O senhor ficou surpreso ao ver as imagens de Bolsonaro dentro da embaixada da Hungria em Brasília?

As circunstâncias me surpreenderam. O atual embaixador e seu antecessor se reuniram com Bolsonaro, isso é publico. Ambos embaixadores tiveram e têm uma relação cordial e amigável com Bolsonaro. Também sabemos que ex-presidentes podem pedir asilo a embaixadas, existem muitos exemplos. Mas as circunstâncias chamaram a atenção, e também o vazamento das imagens.

Por que acha que Bolsonaro escolheu a embaixada da Hungria? Poderia ter escolhido a da Argentina…

Pensei nisso também. Não tenho uma reposta, mas sim hipóteses. Bolsonaro tem uma boa relação com Orbán e se precisa de ajuda vai procurar seus amigos. Talvez o ex-presidente brasileiro tenha pensando em passar dias, meses ou anos em nossa embaixada, não sabemos. Bolsonaro nega e nosso governo não fala. Altos funcionários húngaros estão em silêncio. Nosso chanceler está viajando e nada disse sobre o caso.

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O caso teve repercussão na mídia húngara?

Sim, claro. Os principais jornais da Hungria publicaram a notícia, mas não foi a notícia mais importante do dia, temos temas internos mais relevantes. Mas, sim, vários meios de comunicação informaram sobre o caso e sobre a ida de nosso embaixador ao Itamaraty. Também sobre seu silêncio na reunião com autoridades brasileiras. Aqui na Hungria o grande escândalo é o vazamento das imagens, porque evidenciou um problema de segurança em nossa embaixada. O resto é menos importante para nosso país. A visita de Bolsonaro foi vista como uma visita amistosa, apenas.

Como se explica o silêncio do embaixador húngaro?

O embaixador só falará se tiver autorização para fazer comentários. O governo húngaro ainda está pensando em como reagir, mas em algum momento deverá dizer alguma coisa. Acho que ainda não sabem o que dizer. O maior problema é que vazaram vídeos de segurança da embaixada. Para o governo esse é o problema número 1. Como fizeram para vazar vídeos da segurança de dentro da embaixada? É uma questão de segurança nacional. O que fez Bolsonaro é secundário para o governo.

Se Bolsonaro pedir Orbán o protegerá?

Sim, se Bolsonaro pedir ajuda Orbán o ajudará, eles são aliados, diria até que amigos. Já aconteceu com o ex primeiro ministro de Macedonia do Norte, Nikola Gruevski. Ele recebeu status de refugiado político na Hungria e durante muitos anos viveu em Budapeste, era aliado político de Orbán. Em seu país estava acusado de corrupção, entre outras coisas. Foi um caso que estourou em 2018. Em vez de ir para a prisão veio para a Hungria. Ele não tinha passaporte, mas entrou com sua carteira de identidade e pediu asilo político. Existem suspeitas de que saiu de seu país num carro diplomático húngaro.

Bolsonaro é considerado um aliado de Orbán na Hungria?

Sim, e se Orbán puder ajudá-lo o fará. Com limitações, claro.

Que limitações?

Orbán não enviaria um avião ao Brasil, por exemplo.

A relação bilateral cresceu quando Bolsonaro este no poder?

Na parte de educação e cultura sempre foi uma relação forte. Começou com Lula, recebemos muitos estudantes brasileiros na Hungria. No comércio também é forte, o Brasil é nosso segundo sócio na América Latina, depois do México. Com Bolsonaro surgiu a cooperação com a Embraer. A Hungria comprou dois aviões grandes e a Embraer abriu um escritório em Budapeste.Em paralelo, existe cooperação política entre Orbán e Bolsonaro, como existe entre Orbán e Donald Trump e o partido espanhol Vox, entre outros. Isso se mantém, mesmo Bolsonaro não estando mais o governo.


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