POLÍTICA

Seis meses após caso vir à tona, Silvio Almeida depõe à PF sobre relatos de assédio

25 de fevereiro, 2025 | Por: Agência O Globo

Ex-ministro de Direitos Humanos nega as acusações de importunação

O ex-ministro de Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

O ex-ministro dos Diretos Humanos Silvio Almeida deve prestar depoimento nesta terça-feira à Polícia Federal. Almeida é investigado em um inquérito que apura se ele cometeu o crime de importunação ou assédio sexual contra algumas mulheres, entre elas a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Quando as denúncias vieram à tona, em setembro de 2024, ele foi demitido do cargo e, desde então, nega todas as acusações, classificando-as como “ilações absurdas”.

Ao longo de seis meses de investigação, O GLOBO apurou que pelo menos três mulheres prestaram depoimento à PF na condição de vítima — Anielle Franco, a professora Isabel Rodrigues e outra mulher cuja identidade foi preservada. O caso tramita em sigilo de Justiça no Supremo Tribunal Federal sob relatoria do ministro André Mendonça.

Anielle relatou aos investigadores que foi alvo de atitudes desrespeitosas e importunações desde a época da transição de governo, no fim de 2022. O ato mais ousado teria ocorrido em uma reunião oficial ocorrida em maio de 2023 na qual Almeida se sentou ao lado de Anielle. Ela afirmou que o então ministro colocou a mão nas suas pernas por baixo da mesa. O encontro contou com a participação de pelo menos outras onze pessoas, entre elas o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil Tiago Peereira.

Internamente, a defesa questiona se há a gravação dessa reunião, uma vez que algumas pessoas participaram dela por videoconferência.

Em setembro do ano passado, a professora Isabel Rodrigues publicou um vídeo nas suas redes sociais, dizendo ter sido vítima de Almeida durante um encontro ocorrido em 3 de agosto de 2019. Na época, Isabel e Silvio eram professores.

— Fomos almoçar com vários alunos do curso. Eu sentei do lado do Silvio, ele estava do lado direito, eu estava de saia. Ele levantou a saia e colocou a mão nas minhas partes íntimas. Colocou a mão com vontade. Eu fiquei estarrecida. Fiquei com vergonha das pessoas, porque é assim que as vítimas se sentem — disse ela, no vídeo.

A PF também ouviu como testemunhas assessoras de Aniele e pessoas próximas às vítimas. A avaliação de fontes que acompanham as investigações é que os depoimentos são contundentes, mas há dificuldade para reunir material probatório sobre as ocorrências. Com a oitiva de Almeida, o inquérito chega na sua reta final. A PF deve decidir se indicia ou não o ex-ministro por importunação sexual.

Procurada, a defesa de Almeida disse que não quis se pronunciar sobre as acusações.

Em entrevista ao portal Uol, o ex-ministro negou que tenha praticado assédio contra Anielle e as outras mulheres (“não vou pedir desculpas se não fiz nada de errado”) e disse estar sendo alvo de “fofocas e intrigas” para “queimá-lo”. Segundo Almeida, Anielle “se perdeu num personagem” e “participou do espalhamento de fofocas e intrigas sobre mim”.

Nesta segunda-feira, a ministra rebateu às declarações de Almeida, taxando-as de “inaceitáveis”.

“A tentativa de descredibilizar vítimas de assédio sexual, minimizar suas dores e transformar relatos graves em “fofocas” e “brigas políticas” é inaceitável. Na véspera de prestar depoimento à Polícia Federal como investigado, o acusado escolheu utilizar um espaço público para atacar e desqualificar as denúncias, adotando uma postura que perpetua o ciclo de violência e intimida outras vítimas”, escreveu a ministra.


BS20250225030019.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/02/25/seis-meses-apos-caso-vir-a-tona-silvio-almeida-depoe-a-pf-sobre-relatos-de-assedio-de-anielle-e-outras-duas-mulheres.ghtml

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