POLÍTICA

Sem o apoio do Centrão para sua reeleição, Lula negocia palanques nos estados

28 de abril, 2025 | Por: Agência O Globo

Presidente dialoga com políticos de União Brasil, PP, PSD, Republicanos e MDB para garantir alianças nas unidades federativas

O Presidente Lula em uma entrevista coletiva á imprensa do Japão. Foto: Marcelo Hide/Fotospublicas

Com dificuldades de atrelar a presença dos partidos do Centrão no governo a uma aliança para a reeleição em 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta negociar acordos individuais nos estados com políticos de União Brasil, PP, Republicanos, PSD e MDB. Em outra frente, o petista está costurando apoio a candidatos da base que desejam um novo mandato no Senado, foco de preocupação por ser eixo central da estratégia do ex-presidente Jair Bolsonaro no ano que vem.

Lula passa por percalços na popularidade, o que preocupa o Palácio do Planalto e gera receio em partidos que comandam ministérios de já atrelarem seu futuro ao projeto petista. Pesquisa Datafolha divulgada no início de abril apontou uma aprovação de 29% contra 38% que classificam o governo como ruim ou péssimo.

Na região Nordeste, onde Lula costuma registrar seus melhores índices, as tratativas estão mais adiantadas. O PT deve, por exemplo, apoiar nomes do MDB em Alagoas e no Rio Grande do Norte em troca de sustentação para o presidente. Em Alagoas, o Planalto ainda tenta atrair o PP, do ex-presidente da Câmara Arthur Lira. A iniciativa enfrenta resistências de emedebistas como o senador Renan Calheiros, adversário de Lira. O grupo de Bolsonaro também tenta se aproximar do partido.

Já no Maranhão, um acordo com o PP está mais bem encaminhado. A sigla é presidida nacionalmente pelo senador Ciro Nogueira (PI), ex-ministro de Bolsonaro, mas no estado é liderada pelo ministro André Fufuca (Esporte). Na Paraíba, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) atua para que o vice-governador Lucas Ribeiro, seu sobrinho e correligionário, seja candidato a governador em uma aliança com o governo federal.

Palanque duplo

Em Pernambuco, Lula tem a expectativa de construir um palanque duplo com os nomes mais fortes para disputar a chefia do estado: a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB). O ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), também trabalha para que sua legenda dê sustentação ao petista no estado.

Além do Nordeste, há uma aposta na Região Norte, onde Bolsonaro ganhou de Lula em 2022 e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em 2018. No Pará, por exemplo, o ministro Celso Sabino (Turismo), do União Brasil, pode ser candidato a senador ou a deputado federal. O objetivo é atuar também como um cabo eleitoral do presidente e tentar levar mais integrantes do partido a apoiar o petista.

O União Brasil, no entanto, tem um histórico de crises e disputas internas. O presidente, Antonio Rueda, e o vice, ACM Neto, fazem oposição ao governo e atuam para que a legenda esteja junto com um nome da oposição. Por outro lado, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), tenta aproximar a sigla de Lula. O exemplo mais recente da desavença resultou na recusa da bancada de deputados em indicar o líder do União na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA), para o Ministério das Comunicações.

No Pará, o MDB, comandado pela família Barbalho, trabalha a favor do presidente. Uma forma de amarrar um acordo formal e nacional com o partido passa pelo estado. O governador Helder Barbalho é visto como opção para ser candidato a vice de Lula, mas, caso isso não aconteça, ele já se prepara para disputar o Senado.

No Amapá, estado de Alcolumbre, também existem acordos para apoiar o presidente. O ministro da Integração Nacional, Waldez Góes, hoje filiado ao PDT, já manifestou o desejo de disputar o Senado pelo estado que governou por quatro mandatos.

Cada vez mais próximos, Lula e Alcolumbre trabalham para que Waldez se filie ao União Brasil, abrindo mais um flanco de apoio dentro do partido. Aliados de Lula também tentam atrair o prefeito de Macapá, Doutor Furlan, que se filiou ao MDB, para o entorno presidencial.

— Esse grupo de trabalho eleitoral está começando a se reunir e a fazer esse mapeamento, muito em uma linha de pensar a chapa que vai apoiar Lula — diz o presidente interino do PT, senador Humberto Costa (PE).

Na estratégia de impedir o avanço de bolsonaristas nas eleições do ano que vem, Lula passou a prometer apoio à reeleição de senadores da base aliada — a Casa passará por uma renovação de dois terços de seus integrantes.

O presidente já citou nomes pelos quais prometeu se empenhar na reeleição. Leila do Volêi (PDT-DF), Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), Eliziane Gama (PSD-MA), Eduardo Braga (MDB-AM) e Renan Calheiros ouviram de Lula que terão sua chancela para renovar os mandatos. Esses parlamentares são considerados casos emblemáticos pelo Planalto, por estarem em estados onde a oposição poderá ter candidatos competitivos. Lula tem falado com frequência a diferentes aliados dos riscos de a direita alcançar maioria no Senado. Auxiliares acrescentam que o PT terá candidatos competitivos em poucos estados e que dependerá de alianças para tentar conter o bolsonarismo.

No Distrito Federal, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o governador Ibaneis Rocha (MDB) despontam como nomes competitivos da oposição. Na Paraíba, Bolsonaro já lançou o nome do pastor Sergio Queiroz (PL), que deve enfrentar Veneziano Vital.

— Minha relação com Lula é muito antiga, temos contato com regularidade, e ele foi muito correto comigo em 2022 — diz o senador.

“Onda positiva”

Já no Amazonas, onde o bolsonarismo tem mais força, a oposição deverá ter o capitão Alberto Neto (PL) como candidato. Entre os senadores que buscam reeleição, no entanto, a avaliação é que a popularidade de Lula terá peso fundamental nessa equação. Segundo eles, é necessário que haja daqui até meados do próximo ano “uma onda positiva” favorável ao governo para que o apoio do petista alavanque essas candidaturas.

Articuladores políticos do presidente calculam que, se a direita fizer metade das 54 vagas, já teria a maioria do Senado a partir de 2027.


BS20250428063018.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/04/28/sem-o-apoio-do-centrao-para-sua-reeleicao-lula-negocia-palanques-nos-estados.ghtml

Artigos Relacionados