POLÍTICA

Sucessão em Minas: Zema dá sinais difusos sobre apoio a Cleitinho, que alfineta governador

20 de janeiro, 2025 | Por: Agência O Globo

Chefe estadual não nega possibilidade de apoiar senador, mas faz críticas veladas ao colocá-lo como ‘perfil de Legislativo’

O senador Cleitinho e o governador Romeu Zema em live em 2018 — Foto: Reprodução

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem visto o senador Cleitinho (Republicanos) ganhar o apoio dos partidos à direita na disputa por sua sucessão em 2026. Desde que a pesquisa Quaest divulgada em dezembro colocou o parlamentar na liderança, com 26% das intenções de voto, Cleitinho vem sendo tratado como o nome mais viável para representar o campo político.

Oficialmente, Zema defende a viabilidade de seu vice, professor Mateus Simões (Novo), e para Cleitinho acena ora com discurso de que na política tudo é possível, ora dando alfinetadas, afirmando que o senador tem perfil para o Legislativo, como disse em entrevista ao Globo.

— Nikolas (Ferreira) e Cleitinho são pessoas bem mais novas e poderiam pegar o estado em uma condição mais arrumada se esperarem mais quatro anos. Vejo eles também mais com o perfil de parlamentar — disse o governador.

A declaração não agradou Cleitinho, que rebateu:

— Como vou ter postura de Executivo, se estou no Legislativo? Se eu falar que não quero ser candidato a governador, estaria mentindo. E vai ser até bom concorrer para calar a boca de alguns que dizem que eu faço apenas falatório.

Em cima do muro

Articuladores de Zema já reconhecem Cleitinho como um candidato mais viável que Mateus Simões. Questionado se poderia rifar o vice para subir no palanque do bolsonarista, o governador não negou.

— Na política, tudo é possível. Tem hora que você tem que fazer coisas que te desagradam para manter o time guiado.

Cleitinho avalia que a postura de Zema é “ficar em cima do muro”.

— Para não ficar mal com ninguém — disse o parlamentar. — Ele não me apoiou em 2022. Não fez falta, eu ganhei. Se não me apoiar de novo, respeito ele. O que eu preciso é do povo.

Para o senador, no entanto, Zema se manterá fiel ao vice. Aliados de Zema discordam e dizem que o próprio vice-governador entende a baixa viabilidade de sua candidatura diante de políticos da direita no estado. A avaliação é que Simões só conseguirá se manter candidato se os demais nomes até agora colocados desistirem. Segundo a pesquisa Quaest, ele tem 2% das intenções de voto.

Além de Cleitinho, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) é cogitado como um possível postulante, mas fontes ligadas ao parlamentar afirmam que ele seguirá na Câmara dos Deputados. No caso de o senador concorrer ao governo do estado, teria um baixo custo eleitoral, uma vez que ele foi eleito no pleito passado e tem mandato até 2030.

Outro fator que diferencia Cleitinho de Nikolas é a atenção recente que ganhou dos aliados de dentro do governo. Uma ala do Partido Novo vem defendendo que o senador deixe o Republicanos, se filie à sigla e concorra com o apoio de Zema, embora isso não seja falado oficialmente.

Junto a seus dois irmãos — o prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo (Novo), e o deputado estadual Eduardo Azevedo (PL) —, Cleitinho diz ter um projeto de poder pautado na independência. Com cada um em uma legenda, a família Azevedo não costuma se comprometer com interesses partidários. Exemplo disso foi a postura adotada pelo senador nas eleições de Belo Horizonte, quando o Republicanos lançou o deputado estadual Mauro Tramonte , mas ele esteve com Bruno Engler (PL).

Mesmo garantindo que o grupo não é partidário, articuladores dos irmãos afirmam que Cleitinho poderia se filiar ao Novo, a fim de se aproximar de Zema e facilitar seu apoio.

— Acredito que o governador vai apoiar Cleitinho, sim, mas eles ainda vão construir — afirma Gleidson Azevedo.

Idas e vinda da relação

Início de amizade. Em 2018, Cleitinho se elege deputado estadual, e Zema, governador. Os dois estão no mesmo palanque, e o bolsonarista inicia seu mandato na Assembleia Legislativa na base governista.

Rompimento. Quatro anos depois, oentão deputado chama o governador de “ingrato” e se diz “decepcionado” com ele por não conseguir seu apoio para concorrer ao Senado. Zema preferiu o hoje secretário da Casa Civil, Marcelo Aro (PP), terceiro colocado na disputa.

Da base, mas nem tanto. No Senado, Cleitinho voltou a se aproximar de Zema, com quem hoje mantém uma relação conturbada. Apesar de pertencer à sua base de apoio, frequentemente faz críticas à gestão estadual.

Mais um desgaste. No ano passado, os políticos estiveram novamente em palanques opostos. Desta vez, em Belo Horizonte. Zema apoiou Mauro Tramonte (Republicanos), enquanto Cleitinho esteve com Bruno Engler (PL).


BS20250120063020.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/01/20/sucessao-em-minas-zema-da-sinais-difusos-sobre-apoio-a-cleitinho-que-alfineta-governador.ghtml

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