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ESPORTES

Técnico campeão mundial de basquete feminino, Miguel Ângelo da Luz ganha biografia três décadas após título

30 de setembro, 2024 / Por: Agência O Globo

Obra que homenageia herói improvável do esporte brasileiro será lançada hoje, contando com 28 depoimentos

Técnico campeão mundial de basquete feminino, Miguel Ângelo da Luz ganha biografia três décadas após título
Time que conquistou o mundial de basquete de 1994, na Austrália. Ao centro, o técnico Miguel Ângelo da Luz — Foto: Reprodução / Instagram

A geração de Hortência, Paula e Janeth, que colocou o basquete feminino brasileiro no topo do mundo e em um pódio olímpico, está eternizada na história do esporte. A conquista do Mundial de 1994 sobre a China (com vitória diante dos Estados Unidos na semi), que em junho completou 30 anos, e a prata em Atlanta-1996 são alguns dos temas que perpassam a vida de outro personagem icônico daqueles anos: o técnico Miguel Angelo da Luz, cuja biografia será lançada hoje, a partir das 18h30, no Gurilândia Clube, em Botafogo, na Zona Sul do Rio.

“Não é só sorte — Miguel Angelo da Luz e o melhor basquete feminino do mundo” (editora Com-Arte) conta a trajetória daquele que já foi um jovem treinador e que, ao unir nomes experientes aos de uma nova geração em ascensão, alçou a modalidade feminina a conquistas inéditas.

A obra é de autoria dos jornalistas e professores Luciano Maluly e Marcelo Cardoso, que iniciaram o projeto em 2019 ao lado do também professor e jornalista (e cineasta) Valdir Baptista, morto em meio à concepção. Os autores ouviram 28 depoimentos e mergulharam em arquivos para retratar os lados pessoal e esportivo do técnico carioca, hoje com 65 anos, que chegou a ser eleito o melhor do mundo.

— Paula sempre falou que ele ouvia todas as jogadoras. Muitos dizem que a seleção de 1994 já estava pronta. Só que ela não ganhava Mundial e em Olimpíadas não dava nem medalha de bronze. Ele teve a humildade de ouvir todo mundo, juntar a comissão técnica, delegar poderes e dar independência para as jogadoras. E, principalmente, teve o mérito de juntar as jogadoras mais antigas e as mais novas — diz Cardoso.

Maluly, que hoje leciona na Universidade de São Paulo e é admirador confesso de Miguel, conta que a história do treinador já o impactava antes mesmo de estudar jornalismo. E comemorou a disposição do técnico e das entrevistadas para recontar essa história:

— Todo mundo fala que foi sorte. Não foi. Elas queriam mostrar que tinham trabalhado muito — argumenta Maluly ao explicar o título da biografia.

Projeto no Rio

Jovem, com pouca experiência e bagagem maior no basquete masculino, Miguel foi alvo de críticas quando se tornou comandante daquela seleção. Ele já havia feito parte da comissão técnica da categoria juvenil e foi alçado ao profissional aos 34 anos — mesma faixa etária de Hortência naquela época, por exemplo.

— A gente tinha que tentar uma coisa diferente. Eu acompanhava as seleções e, no feminino, não tinha uma renovação. Como pegamos o juvenil, que na época era sub-19, tínhamos garotas muito boas, promissoras, como Cintia, Leila e Alessandra. Demos oportunidade a elas — conta Miguel em conversa com O GLOBO. —Tínhamos que aumentar o poderio defensivo da equipe. O Brasil fazia 80 pontos, mas levava 90, 100… Aumentamos a estatura da seleção com essas meninas, com mais disposição e jovialidade. Elas foram fundamentais. Porque sabíamos que, no ataque, o time produziria.

Após as conquistas históricas, Miguel ainda comandou clubes como Flamengo e Telemar em conquistas estaduais e nacionais. As propostas, porém, passaram a ser mais raras, um dos temas do livro. Nos últimos anos, seus trabalhos foram em cargos de gestão no rubro-negro e no Botafogo. Hoje, o treinador atua como professor pelas quadras e ginásios do Rio de Janeiro em seu projeto Basquete da Luz, no qual trabalha com crianças e adultos. A iniciativa tem núcleos na Zona Sul e não cobra de famílias em situações mais delicadas financeiramente. Miguel, agora, sonha com uma expansão:

— Queria levar para o interior do estado ou para as zonas Norte e Oeste. Fui muito bem recebido nas vilas olímpicas, mas preciso de apoio de empresas ou instituições que queiram desenvolver o basquete para os menos favorecidos.


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