ECONOMIA
Ter uma hora ‘a mais’ de sol aliviaria sobrecarga no pico de consumo, dizem analistas
16 de outubro, 2024 / Por: Agência O GloboCom pico de consumo no fim da tarde, adiantar o relógio reduziria acionamento de térmicas neste período
Se há alguns anos o polêmico horário de verão era visto como a principal alternativa para reduzir o consumo de energia elétrica, neste ano sua volta vem sendo defendida por especialistas como uma estratégia para aliviar a sobrecarga da oferta de eletricidade. Isso porque permitiria ao sistema elétrico, na prática, “ganhar” uma hora a mais de sol.
O horário de verão — quando se adianta uma hora nos relógios — acabou em 2019, durante a gestão de Jair Bolsonaro. De lá para cá, a energia solar cresceu de 2,3 GW para 45 GW, passando de cerca de 2% da matriz para pouco mais de 21% do total de eletricidade gerada no país.
É por isso que, para especialistas e consultorias ouvidas pelo Globo, o objetivo do horário de verão mudou em 2024. Sai de cena o debate sobre a redução do consumo de ar-condicionado e lâmpadas, e entra no radar uma hora a mais de sol justamente quando há maior consumo de energia, no fim do dia, por volta das 18h, horário em que as pessoas chegam em casa.
E é nesse momento que o sol deixa de gerar eletricidade, retirando do sistema de forma instantânea pouco mais de um quinto da geração para atender ao consumo. Assim, para evitar falta de energia, outras fontes, como as térmicas e as hidrelétricas, precisam entrar em operação para compensar a saída do sol.
Essa mecânica, dizem os especialistas, gera “estresse” no sistema, sobrecarregando toda a rede elétrica. Hidrelétricas e térmicas são consideradas as mais seguras por gerarem na base do sistema.
‘Economia não é grande, mas é relevante’
A energia eólica, na maioria das vezes, não interfere nesse processo, pois gera eletricidade com mais intensidade durante a madrugada, atestam os especialistas.
— Com o horário de verão, se você leva em conta que ganha mais uma hora de energia solar justamente quando a demanda está maior, você consegue poupar uma hora de energia térmica, que é mais cara. A economia não é grande, mas é relevante — diz Mayra Guimarães, diretora de Regulação e Mercado da Thymos.
Para ela, o importante é entender que o objetivo do horário de verão hoje não é mais economizar energia, mas servir como resposta à demanda em um horário de mudança na oferta.
— Não temos mais aquela preocupação com a troca de lâmpadas em casa ou a redução do consumo. O setor mudou, e a sociedade também. A eletrificação está mais presente em tudo.
Alexandre Nascimento, diretor da Nottus, empresa especializada em meteorologia, diz que o horário de verão gera um deslocamento no tempo justamente no momento em que o sistema começa a operar de forma mais crítica.
— Do ponto de vista técnico, não deixa de ser importante. No fim do dia, as pessoas começam a chegar em casa, e o setor ganha uma hora de energia mais barata do sol, dentro de um período em que há o pico de demanda. Isso ajuda no sistema — afirma Nascimento.
Calor intenso muda horário de pico de consumo
Para os especialistas, a mudança no horário de pico de consumo — que começa por volta das 18h — só ocorre quando há uma onda de calor intensa na Região Sudeste, o que desloca a demanda máxima para entre 14h e 16h.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a substituição da solar por outras fontes é feita em milissegundos para evitar interrupções no fornecimento de energia no país. No entanto, devido à falta de chuvas nos últimos meses, as hidrelétricas têm sido poupadas. De forma preventiva, o ONS vem determinando o acionamento das termelétricas, que são mais caras e impactam a conta de luz. A previsão é que a bandeira vermelha patamar 2 se mantenha até dezembro.
As hidrelétricas com reservatório são sempre a melhor solução, já que respondem instantaneamente, de acordo com os especialistas. Além disso, é a fonte de energia mais barata. As térmicas precisam ser ligadas com horas de antecedência, gastando combustível, seja gás ou diesel, exigindo maior planejamento do ONS e das empresas.
No mês passado, Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, explicou que, se aprovado, o horário de verão poderia gerar uma economia de R$ 400 milhões. Para Clarice Ferraz, economista e diretora do Instituto Ilumina, toda contribuição é válida:
— O horário de verão pode contribuir com uma economia, aliviando em parte a geração térmica.
Edvaldo Santana, ex-diretor da Aneel, diz que, embora positivo, o efeito não é tão relevante:
— O efeito seria positivo, mas, no verão, o período diário com mais radiação já é naturalmente maior, já que o sol se põe mais tarde. Por isso, o efeito não é assim tão relevante.