BRASIL
Quase sete em cada dez crianças no trabalho infantil são pretas ou pardas
18 de outubro, 2024 / Por: Agência O GloboMaioria dos menores de 5 a 17 anos que trabalhavam em condições inadequadas é do sexo masculino
A maioria das crianças e dos adolescentes na condição de trabalho infantil no Brasil é preta ou parda e do sexo masculino. É o que o que indica o estudo “PNAD Contínua Trabalho de Crianças e Adolescentes 2023”, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (dia 16).
Enquanto a participação de pessoas brancas em situação de trabalho infantil chega a 33,8% – abaixo da proporção de 39,9% da população branca nessa faixa etária —a de menores de cor preta ou parda atinge 65,2%, superando a sua representação de 59,3% na população de 5 a 17 anos.
Em outras palavras, significa dizer que quase 7 em cada 10 crianças e adolescentes no trabalho infantil são pretas ou pardas.
— Observamos mais pessoas de cor preta ou parda (nessas condições) — destaca Gustavo Geaquinto Fontes, analista da pesquisa.
Meninos são mais expostos ao trabalho infantil
Os meninos também são mais afetados pelo trabalho infantil do que as meninas. Eles representam 63,8% do total, enquanto elas ficam com 36,2%. Os padrões de cor e gênero se mantêm quando se analisam as crianças que exercem ocupações da lista de Trabalho Infantil Perigoso (TIP).
A maioria dos menores inseridos nas piores formas de trabalho são homens, somando 76,4%. Além disso, 67,5% dos jovens são de cor preta ou parda.
Norte e Nordeste têm maiores níveis
O Nordeste concentra o maior número de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil desde 2016, início da série histórica da pesquisa. Em 2023, foram 506 mil trabalhadores nessa condição que residiam nesta região. Na sequência, ficam Sudeste (478 mil pessoas); Norte (285 mil pessoas); Sul (193 mil pessoas); e Centro-Oeste (145 mil pessoas).
Embora o Norte não tenha o maior número absoluto de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, a região lidera em proporção. Significa que, em relação à sua população de 5 a 17 anos, 6,9% estão nessa condição – um índice maior do que o observado em outras regiões.
As regiões Centro-Oeste (4,6%) e Nordeste (4,5%) registraram percentuais de trabalho infantil acima da média nacional, que é de 4,2%. Em contrapartida, as Regiões Sudeste (3,3%) e Sul (3,8%) tiveram as menores proporções.
Considerando apenas as crianças de 5 a 13 anos, Norte e Nordeste apresentaram os piores indicadores, com 2,7% e 1,9%, respectivamente, da população nessa faixa etária em situação de trabalho. Nas demais regiões, os percentuais variaram de 0,6%, no Sul, a 1,1%, no Centro-Oeste. Segundo o IBGE, essas duas regiões concentram juntas mais de 60% dos trabalhadores infantis desse grupo etário no país.
Numa análise mais longa, o estudo mostra que todas as regiões do país registraram queda no total de menores em situação de trabalho infantil em relação a 2016, início da pesquisa. Nordeste e Sul tiveram redução mais acentuada do contingente de crianças e adolescentes nessa situação em relação ao ano inicial da série, com cerca de 33% de queda em números absolutos.
Impacto na frequência escolar
A pesquisa também revela o impacto do trabalho infantil na frequência escolar. Enquanto 97,5% da população de 5 a 17 anos frequentavam a escola, esse percentual cai para 88,4% entre os que exerciam atividades fora do permitido por lei.
Os números apontam que as crianças vão deixando de lado a escola conforme a idade avança. A diferença começa a aparecer entre os jovens de 14 e 15 anos. Segundo a pesquisa, 98,3% dos brasileiros nessa faixa etária frequentam a escola. Já entre os que têm essa idade e trabaham, o percentual é de 94%.
Na faixa de 16 e 17 anos, essa disparidade é maior: 90% da população dessa faixa etária estão na escola, percentual que cai para 81,8% entre os que exercem algum tipo de atividade.
— À medida que a idade aumenta, a jornada de trabalho tende a ser maior e o comprometimento da frequência escolar também é maior — analisa Fontes, do IBGE.