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Transmissão e sintomas da varíola do macaco começam a ser definidos
10 de agosto, 2022Estudos publicados em diferentes revistas científicas revelam um novo padrão na manifestação clínica da doença, com lesões na região genital Evolução das lesões que a […]
Estudos publicados em diferentes revistas científicas revelam um novo padrão na manifestação clínica da doença, com lesões na região genital
Como é transmitida a varíola do macaco? Quais os sintomas específicos da atual onda? Três meses depois do início do surto, os cientistas começam a traçar os contornos.
Quase 28.000 casos foram confirmados em todo o mundo e as primeiras mortes foram registradas.
A varíola do macaco já era conhecida há algumas décadas em alguns países africanos. Mas a atual epidemia apresenta várias particularidades, a começar pelo perfil dos pacientes.
São principalmente homens adultos que mantêm relações homossexuais, ao contrário do que acontece na África, onde a doença afeta principalmente as crianças.
Nas últimas semanas, três estudos publicados nas principais revistas médicas de referência – British Medical Journal (BMJ), Lancet e New England Journal of Medicine (NEJM) – descreveram o quadro clínico da doença, mas os dados são precoces, obtidos a partir de algumas centenas de casos.
Os estudos confirmam que quase todos os casos afetam homens que mantêm relações sexuais com outros homens.
A predominância do perfil não é uma surpresa porque já havia sido documentada com a detecção dos primeiros casos.
A doença é, portanto, transmitida por via sexual? Alguns especialistas em saúde pública temem que uma resposta definitiva estigmatize a comunidade homossexual.
Mas os estudos mais recentes são claros. “Nosso trabalho respalda a ideia de que um contato corporal durante a atividade sexual constitui o mecanismo dominante de transmissão da varíola do macaco na epidemia atual”, resume o estudo da Lancet, realizado em vários hospitais da Espanha.
A conclusão está baseada, em particular, no fato de que a carga viral era muito mais elevada nas lesões cutâneas dos pacientes, em comparação com a registrada no sistema respiratório.
Alguns pesquisadores haviam mencionado a ideia de que a transmissão por via aérea também desempenharia um papel importante na contaminação, mas estas descobertas provocam perguntas sobre esta teoria.
Isto não significa que a doença é transmitida através do esperma. A hipótese não está descartada, mas as pesquisas atuais não comprovaram a tese.
Os três estudos confirmam também que a epidemia atual se distingue por seus sintomas, que “são diferentes dos que foram observados em populações afetadas por epidemias anteriores” na África, explica o estudo do BMJ, realizado no Reino Unido.
Dois elementos fundamentais da doença: a febre, às vezes acompanhada de dores musculares, e lesões corporais, que se transformam em crostas.
Os detalhes variam e a questão certamente está vinculada à transmissão, porque entre os pacientes recentes algumas manifestações físicas parecem estar relacionadas com uma contaminação durante uma relação sexual.
Em cada estudo as lesões estão concentradas no ânus, no pênis e na boca. A isto são adicionadas complicações muito pouco observadas até agora: uma inflamação do reto ou um edema no pênis.
Quase 40% dos casos têm complicações, segundo um estudo da Lancet, enquanto 20% dos pacientes precisaram de hospitalização, de acordo com a pesquisa do NEJM.
Segundo este último estudo “não foi detectada nenhuma complicação grave”.
Embora os estudos permitam um conhecimento melhor da doença, muitas perguntas continuam sem resposta.
A primeira é a eficácia das vacinas. O estudo da Lancet mostra que uma parte considerável dos doentes (18%) havia sido vacinada contra a varíola, que supostamente protege contra a varíola dos macacos.
Os pacientes contraem a varíola dos macacos em alguns casos décadas depois da aplicação da vacina, o que explicaria a proteção menor.
Finalmente, resta determinar se a pessoa corre mais riscos quando sofre de outra doença. Quase 40% dos pacientes estudados pela Lancet estavam infectados pelo HIV. Mas é impossível saber se existe uma ligação direta ou se é uma simples correlação.
Estou com sintomas de varíola do macaco, o que devo fazer? Tire esta e outras dúvidas:
O cenário da varíola do macaco nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte é de transmissão comunitária, o que significa que qualquer pessoa pode ser infectada pelo vírus monkeypox. Nesse contexto, o Ministério da Saúde orienta as pessoas a procurarem atendimento médico em uma UBS (unidade básica de saúde) da sua região ao apresentarem os sintomas característicos da doença
Quais são os primeiros sintomas da varíola do macaco? Nos primeiros dias, os sintomas mais comuns da infecção são febre, dor de cabeça, inchaço dos gânglios linfáticos (popularmente conhecido como íngua), cansaço intenso, dores musculares e nas costas. As lesões na pele costumam aparecer entre o primeiro e o quinto dia após a febre e, no surto atual, podem se concentrar na região genital e/ou perianal. “[A varíola do macaco tem uma] forma clínica diferente de se manifestar em cada pessoa, algumas têm lesão só na região genital, outras podem ter no couro cabeludo, em outra parte do corpo, não é algo uniforme”, explica o infectologista José Ângelo Lindoso, coordenador do Grupo de Doenças Negligenciadas do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo
Quando devo fazer o teste? O exame para diagnóstico da varíola do macaco é o PCR – a mesma técnica usada para a Covid – e só pode ser feito após o aparecimento das lesões, segundo o infectologista. Antes disso, o paciente é classificado como um caso suspeito ou provável da doença, segundo as definições do Ministério da Saúde. “No momento, ainda não tem nenhum outro método de diagnóstico disponível, como colher o exame de sangue”, afirma Lindoso
Qual é o tratamento para a varíola do macaco? Não há um tratamento específico para a doença, conforme explica o infectologista. Para tratar os sintomas, o paciente recebe medicação, como um antitérmico para reduzir a febre ou analgésico para as dores. Também não há nenhum medicamento disponível para tratar ou reduzir as lesões na pele
Por quanto tempo se transmite o vírus após o fim dos sintomas? O infectologista afirma que ainda não se sabe por quanto tempo o monkeypox pode ser transmitido mesmo após o desaparecimento das lesões, meio por onde a contaminação ocorre de forma mais eficaz. “O que temos de recomendação é que enquanto as lesões não estiverem revitalizadas ainda há risco de transmissão, e a pessoa tem que ficar em isolamento”, afirma Lindoso
Qual é o grupo de risco para casos graves de varíola do macaco? As pessoas mais vulneráveis a complicações pela infecção causada pelo vírus monkeypox são crianças, gestantes e imunocomprometidos. Para o restante da população, a doença não apresenta alto grau de complexidade, com exceção dos quadros em que há um grande número de lesões na pele, o que pode levar a infecções secundárias, assim como lesões de mucosas anais e na uretra. No Brasil, a primeira morte por varíola do macaco registrada foi de um homem imunocomprometido
O que devo fazer caso o diagnóstico de varíola do macaco seja confirmado? O R7 teve acesso a recomendações do Instituto de Infectologia Emílio Ribas que servem para casos confirmados e suspeitos e que vão ao encontro das orientações do Ministério da Saúde. Veja a seguir:
– Usar máscara cirúrgica perto de outras pessoas e se houver sintomas respiratórios como tosse, falta de ar e dor na garganta;
– Evitar contato com animais, inclusive animais de estimação;
– Cobrir as feridas da pele com uso de mangas longas ou calças compridas para minimizar o risco de contato com outras pessoas;
– Permanecer em área separada dos demais moradores da residências, inclusive durante as refeições, e manter as janelas abertas;
– Lavar a escova de dentes após o uso com água e detergente neutro, secá-la e guardá-la separadamente;
– Higienizar as mãos com água e sabão ou com álcool 70% antes e depois do contato com secreção da lesão e fluidos;
– Higienizar as áreas próximas (superfícies) e o ambiente diariamente com água e sabão/detergente, álcool 70% ou hipoclorito de sódio 0,1% a 0,5%;
– Higienizar o banheiro após cada uso (vide orientações acima);
– Higienizar as mãos com água e sabão ou com álcool 70% depois do contato com as roupas, lençóis, toalha de banho ou superfícies próximas;
– As pessoas que residem no domicílio deverão higienizar as mãos após contato com o paciente, objetos e roupas utilizadas pelo paciente;
– As roupas devem ser separadas com cuidado para não haver contato direto com o material contaminado. Não sacudi-las, para evitar dispersar partículas infecciosas;
– Lavar roupas de cama, toalhas, roupas de uso individual separadas em máquina de lavar ou em tanque com água e sabão. Alvejante (água sanitária) pode ser adicionado, mas não é necessário;
– Pratos e outros talheres não podem ser compartilhados e deverão ser devidamente lavados com água e sabão;
– Os resíduos contaminados, como curativos e bandagens, deverão ser descartados em saco plástico no lixo domiciliar;
– O isolamento deve ser mantido até que todas as feridas tenham formado crosta e se desprendido naturalmente, por um período de cerca de 3 a 4 semanas;
– Não ter contato com pessoas imunocomprometidas até que todas as crostas desapareçam. A interrupção do isolamento durante a doença só deverá ocorrer se houver necessidade de avaliação presencial em serviços de saúde;
– Não manter relação sexual durante o isolamento e utilizar preservativo durante 3 meses após o diagnóstico
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