COLUNAS
Uma coisa só
5 de agosto, 2024Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
Eu ia fazer uma lista das 50 coisas que eu deveria fazer e não faço, mas fiquei presa na primeira. Eu deveria anotar meus sonhos. Primeiro porque levo tudo pra análise, depois porque às vezes uso os roteiros – quando são bons, claro – pra escrever alguma coisa. E no mais, gosto dessa ideia de dar o pulo do tempo no inconsciente. Sonho é assim, você acorda lembrando até da cor do cavalo branco de Napoleão, olha a hora no celular e não sabe mas nem se Napoleão era o cavaleiro ou o cavalo.
O inconsciente é ligeiro e cheio de truques. E digo sabendo que vocês sabem, claro. Mas se na hora do olho ainda nem 100% aberto, você abrir o grupo de WhatsApp que tem consigo mesma – o meu chama “Bom dia, Betinha!”, há de se tratar bem nessa vida – e gravar num áudio com voz de sono ainda um: branco, branco, o cavalo era branco, é capaz de você conseguir descrever sem nem pensar direito a sequência todinha.
Ele tava sentado numa cadeira de escritório, o cavalo, (de gravata, camisola e bota de cowboy) dando ordem pra aquela cachorra que Danielle (minha amiga de infância) tinha, e Pipoca, a cachorra, chorava uma lágrima meio neon, enquanto cantava “É o amor”, só que com a voz da Sandy, aí entrava Rubem Franca, o professor da oitava série e fazia todo mundo repetir que “a história é uma sucessão de sucessos e insucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar”, Pipoca, o Cavalo, Sandy com o chapéu de Napoleão, Lula, minha fonoaudióloga (também da infância), Danielle e eu, sem errar a pronúncia de nenhum, nenhum S. Sonhei isso mesmo.
Depois dei uma micro acordadinha e sonhei de novo. Era uma festa de 15 anos e eu era daminha. Todo mundo entrava com os meninos da escola de quando eu tinha 15 anos de verdade. Lilian com George, Danielle com Glauber (que era assim com G mesmo) e os outros pares todos que reconheci o rostinho, mas não lembro dos nomes.
Cada menina com um vestido de cor diferente e modelo igual, no peito um dos elementos dos ursinhos carinhosos, lembram deles? Um sol, um coração, um trevinho, um arco íris. A minha vez nunca chegava e eu não conseguia ver o rosto do meu par, mas as mãos eram enormes. A gente atrás de uma cortina, como se fosse um palco, tudo escuro.
Era como se eu tivesse um olho no salão, vendo as meninas entrarem, e outro em mim, vendo a mão gigante do menino que estava comigo. Um contexto rápido, estou lendo Frankenstein e fiquei muito impressionada com a altura da criatura criada por Victor. Ele tinha 2,40m, eu tenho 1,73m. Já tinha 1,73m aos 15. A cortina abria e eu saia vestida de Moranguinho (a inadequação) e de braço dado com o Sloth dos Goonies. Veio a imagem na cabeça? Dá um googlezinho aí.
Lembrei porque gravei. Tem sentido? Olha, pra tu pode até não ter, mas hoje às 17h eu tenho análise e Tábata (minha analista) vai tirar pelo menos uns 3 “minha nossa!” da minha boca só com esse primeiro e pra mais de 5 com o segundo. E isso tudo rolou do sábado pro domingo. Tiraria mais se eu tivesse anotado o de hoje. Mas eu fui olhar a hora. Aí já viu. Enfim, eu deveria anotar meus sonhos. Boa semana, queridos.
Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
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