POLÍTICA

‘Você não precisa estar necessariamente no cargo’ para influenciar na política, afirma Milton Leite

25 de outubro, 2024 | Por: Agência O Globo

Em entrevista ao Globo, presidente da Câmara de Municipal de SP disse que vai participar da escolha do sucessor e nega cargo no executivo: ‘Não aceito ter patrão’

Presidente da Câmara Municipal de São Paulo e um dos nomes mais influentes da política paulistana nas últimas décadas, Milton Leite (União) decidiu se aposentar. Não se candidatou nestas eleições, após 28 anos com mandato de vereador, disse que não vai se candidatar em 2026 e afirma que jamais aceitará um cargo de secretário municipal porque “não aceita ter patrão”.

Em entrevista ao Globo, Milton Leite afirmou que está saindo por cima, decidiu dar vez para seus aliados políticos e que “um líder só será respeitado se ele permitir que seus liderados exerçam também o poder”. Antes de deixar a presidência municipal do União Brasil, o que deve fazer dentro de dois anos, ele vai participar da escolha do próximo presidente da Câmara Municipal, liderar articulações políticas para próxima eleição do governo do estado, além de auxiliar no aumento da bancada federal no Senado e na Câmara dos Deputados.

O presidente do União Brasil na capital paulista conseguiu eleger dois aliados políticos, Silvão Leite e Silvinho, que trabalharam em seu gabinete. Silvio Antonio Azevedo, o Silvão, foi o 11 vereador mais votado da capital, 62,8 mil votos. Já Silvio Ricardo Pereira dos Santos, o Silvinho, ficou em 21 lugar entre os mais votados e teve 53,1 mil votos. Os filhos de Milton Leite já ocupam outros cargos públicos. Alexandre Leite é deputado federal e Milton Leite Filho é deputado estadual.

O senhor escolheu aliados para ocuparem cargos na Câmara. Por que não quis se candidatar?

Tem que se eternizar no cargo? Depois de 28 anos de mandato, chegando aos 70 de idade, tenho outras coisas para viver. É preciso que você prestigie grupos aliados e faça a transição. Sair por cima não é perder. Volto para minha construtora; vou viver.

Sem chances de se candidatar a algo em 2026?

Sem chance. Estou me aposentando. O nosso grupo (político) é grande. Ninguém chega ao poder, como esse que construímos, sozinho. Um líder só será respeitado se ele permitir que seus liderados exerçam o poder. Você sempre será maior se assim o fizer. Você não precisa estar necessariamente no cargo. Vou acompanhar nossos dois vereadores.

O senhor poderia assumir alguma secretaria na prefeitura, por exemplo?

Eu fui convidado “n” vezes, mas você acha que alguém consegue ser meu patrão? Eu não aceito ter patrão, é uma dificuldade que tenho. Você acha que em uma reunião de secretariado, com alguém sendo o prefeito, vai funcionar comigo? Não, né? Por isso que eu não quero, vários governos me chamaram… Não tenho a menor vontade.

Está mesmo deixando a política, então?

Vou continuar na presidência do União Brasil (na cidade) por mais dois anos. Temos que escolher outros, faremos a sucessão (do comando do partido). Vou ajudar na sucessão ao governo do estado, na construção da bancada federal (do União Brasil). Já sou da executiva nacional, sou tesoureiro da estadual e presidente no município. Tenho uma carreira enorme no partido. Estou feliz já.

Como ficará a presidência da Câmara com a saída do senhor?

Com alguém do União Brasil, conforme acordo.

O senhor fará parte da escolha?

Vou decidir junto aos demais, afinal de contas eu construí isso. Dentro do União, eu farei a discussão. Antes vamos fazer uma discussão externa para ver aquilo que a gente consegue passar melhor, sem problema. Os sete vereadores do União têm condição de presidir a Câmara.

O senhor começou a carreira política em um partido de esquerda, foi para o MDB e, depois, para o PFL, que se tornou DEM e, na sequência, União Brasil. Por que a transição da esquerda para a direta?

Eu evoluí também. Deixei de ser comunista, sou mais de centro. É difícil um capitalista ser comunista, né? Sou centro-esquerda. Tenho muito respeito pela esquerda, conheço sua atuação, militei por ela. A gente vê coisas com que não concorda na esquerda, assim como vê coisas com que não concorda na direita.

Incomoda a aproximação de Ricardo Nunes (MDB), que o senhor apoia à reeleição, com o ex-presidente Bolsonaro?

Não. Nunes está mais para o centro, foi meu colega no MDB; é mais centro-direita, diferente do meu perfil.

Vimos que a direita ganhou espaço nas eleições municipais, e o PT, do presidente Lula, não conseguiu eleger prefeitos como antes. A direita é a tendência?

A sociedade está em movimento. Temos que nos adequar. Ela se movimenta para um lado e para o outro. Me parece que os grandes líderes não conseguiram conduzir. Vou me ater ao Lula, grande líder, mas não logrou muito êxito. Mas não podemos cravar que o movimento é para direita ou esquerda.

O Ministério Público investiga a presença do PCC no transporte público de SP. O senhor foi chamado a depor como testemunha, por ter relação com Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, dono da Transwolff, que foi preso em maio. O que tem a dizer sobre o caso?

Não estou respondendo a processos. O que quer que eu responda? Fui chamado como testemunha. Não sei se vou depor, estou à disposição, mas não tem fato ou motivo para que eu vá. Estão perguntando para a pessoa errada.


BS20241025133014.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2024/10/25/voce-nao-precisa-estar-necessariamente-no-cargo-para-influenciar-na-politica-afirma-milton-leite.ghtml

Artigos Relacionados