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Acampamento em frente ao QG do Exército foi ponto de apoio para atos golpistas

27 de janeiro, 2023

Ao apresentar o relatório sobre os atos criminosos praticados durante o ataque aos Três Poderes, o interventor federal Ricardo Cappelli destacou a centralidade e a […]

Acampamento em frente ao QG do Exército foi ponto de apoio para atos golpistas
Em relatório, Cappelli afirma que Torres recebeu informações sobre ameaças - Foto: Reprodução

Ao apresentar o relatório sobre os atos criminosos praticados durante o ataque aos Três Poderes, o interventor federal Ricardo Cappelli destacou a centralidade e a importância do acampamento de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília para os atos que culminaram no ataque em 8 de janeiro.

“Todos os atos tiveram sua organização, planejamento e ponto de apoio no acampamento. Aquilo virou um centro de construção de planos contra a democracia brasileira.”

Cappelli se referiu ao local como uma “minicidade golpista e terrorista”, e destacou que um acampamento comum não teria a infraestrutura documentada no lugar, que contava com banheiros químicos, cozinha estruturada, geradores de energia, entre outros recursos.

E disse que houve tentativas da Polícia Militar e Civil de desmontar o acampamento, mas as operações foram canceladas por ponderações feitas pelo Exército.

Ele ainda acrescentou que havia documentos que alertavam sobre o risco de um ataque. “Houve informação sobre o que aconteceria no dia 8. Há um relatório da Secretaria de Segurança Pública do DF do dia 6 de janeiro onde está escrito textualmente que existia ameaça concreta de invasão aos prédios públicos.”

Cappelli afirmou que o relatório foi entregue ao gabinete de Anderson Torres, então secretário de segurança do DF, no dia 6.

Segundo ele, mesmo com esse documento, não havia nenhum plano operacional nem ordem de serviço para as forças de segurança no dia 8, de forma que não há sequer registro de quantos policiais estavam presentes no local. Apenas um memorando teria sido encaminhado burocraticamente para algumas unidades da polícia.

REFORÇOS

O interventor federal também apontou a demora dos policiais em acionar reforços. O grupo de manifestantes saiu do acampamento em frente ao QG do Exército por voltas das 13h, e passaram a demonstrar um comportamento mais agressivo até que a linha de contenção foi quebrada às 14h43.

De acordo com ele, o acionamento de reforços das forças de segurança na avenida das bandeiras, se deu apenas às 15h. “Quando mais tropas chegaram, os Três Poderes já estavam invadidos”, disse.

Cappelli apontou outras duas falhas operacionais: os gradis utilizados não tinham a proteção adequada e policiais que ainda estavam no curso de formação participavam da linha de frente de contenção. “Todas essas questões operacionais corroboram com a ausência de um planejamento adequado”.

“conjunto de coincidências”

Segundo Cappelli, outro fator importante é que nove comandantes das forças de segurança estavam de férias no dia 8 de janeiro.

Quanto à conduta de policiais durante os atos, há seis inquéritos para apurar essa situação dentro da Polícia Militar. O interventor ainda apontou que a politização das forças de segurança fez com que as ordens dos comandantes não fossem atendidas pelos policiais sob seu comando.

“Esse conjunto de coincidências pode caracterizar algo muito pior do que ausência de comando”, disse. “Temos uma sucessão de problemas: o planejamento operacional inexistente, a postura passiva das forças armadas. São muitas coincidências juntas.”

Cappelli disse que a entrega de seu relatório é o “ponto de partida”. E, sob a liderança do novo secretário de Segurança do DF, Sandro Avelar, as investigações para esclarecer o que ocorreu no dia 8 de janeiro seguirão avançando.

“A intervenção termina no dia 31, mas tenho plena confiança no secretário Sandro Avelar para dar continuidade a esse trabalho”, falou.