Intérprete de Yara em ” Dona de mim”, Cyda Moreno, de 61 anos, vive uma avó que todo mundo quer ter por perto. Na trama, a atriz encarna uma costureira aposentada que criou as netas, a protagonista Leona (Clara Moneke) e Stephany (Nikolly Fernandes), com muito sacrifício depois da morte dos pais das meninas. Na novela, Yara chega a improvisar uma creche na sala de casa para atender às mulheres do bairro que não têm com quem deixar seus filhos. Apesar das dificuldades financeiras, a personagem se mantém vaidosa e não dispensa um forró na famosa Feira de São Cristóvão, ponto de encontro que reúne o melhor da cultura e da culinária nordestina no Rio.

Mãe de Miguel Arcanjo, de 29 anos, e Madara Luiza, de 27, fora da ficção Cyda não compartilha com a personagem a experiência de ser avó, mas conta que o autocuidado é uma das muitas características que as duas têm em comum.

— Lembro que há uns anos, eu falava para minha filha assim: “Madara, eu posso não ter o que comer, mas o dinheiro da minha tinta (de cabelo) é sagrado” — diz rindo.

Para a artista, interpretar Yara na novela das sete representa uma grande responsabilidade pelo que a personagem representa enquanto uma mulher negra que cuidou das suas duas netas por conta própria, realidade que Cyda não conhece apenas por conta da trama: a atriz também é funcionária pública e trabalhou como professora de artes na rede estadual do Rio de Janeiro por nove anos.

— Quando me vem essa questão da vó Yara, penso na quantidade de avós que atendia nas escolas quando a gente precisava chamar o responsável. E avós muito novas! — lembra ela.

Segundo dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, mais de 91 mil crianças no Brasil foram registradas sem o nome do pai na certidão de nascimento em 2024.

— O que acontece nesse universo? As meninas são mães muito novas, então, naturalmente, a avó também vai ser muito nova, e na grande maioria das vezes são as avós que criam, porque o pai vai embora — reflete Cyda.

A artista ainda comenta que considera como um grande diferencial da personagem que interpreta em “Dona de mim” a maneira como ela incentiva a vitalidade das mulheres mais velhas:

— Ela é cheia de energia, está ali junto das netas, vibrando lado a lado, se dando para essas netas, para a felicidade delas, sem perder o vigor da vida, a saúde, a beleza, a fé e o amor.

Cyda Moreno, a Yara em ‘Dona de mim’, faz doutorado na UniRio

Natural de Sabará (Minas Gerais), Cyda atua no teatro desde 1983. Formada em Artes Cênicas e, atualmente, cursando doutorado em História do Teatro Negro pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), também é uma das fundadoras da Cia Black e Preto Produções Artísticas.

Ao longo das suas quatro décadas de carreira, a atriz trabalhou com diretores conhecidos pelo público como Antunes Filho, Ulysses Cruz e Édio Nunes. Na televisão, fez parte dos elencos de “A padroeira” (2001), “Amor perfeito” (2023) e, agora, “Dona de mim” (2025).

— A Yara, inclusive, tem me ensinado uma coisa que acho que serve até para as pessoas que convivem comigo: ela vai para cima. Ela tem uma autoestima, né? Ela pode estar passando dificuldade, mas o cabelo está lá, a tinta está em dia, as unhas estão em dia.

A mineira acrescenta que a personagem tem ensinado e inspirado “muitas mulheres da nossa faixa etária a se permitirem” e não deixa de comentar sobre a representatividade do elenco da produção assinada por Rosane Svartman, predominantemente negro.

— Em 2001, eu fiz “A padroeira”, que era uma novela de época, e eu fazia uma escrava que vivia em um quilombo. Ou seja, era tudo muito pequeno, sabe? A gente não ocupava o centro da cena, não éramos os principais — afirma.— Quando vejo hoje um set inteiro de atores negros, de jovens, e todas as pessoas que trabalham ali dando à gente esse destaque, isso é muito emocionante.

* Estagiária sob supervisão de Camilla Mota.

BS20250812084513.1 – https://extra.globo.com/entretenimento/noticia/2025/08/atriz-de-dona-de-mim-cyda-moreno-e-vaidosa-como-sua-personagem-posso-nao-ter-o-que-comer-mas-o-dinheiro-da-minha-tinta-e-sagrado.ghtml