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Em 2025, o festejo confirmou seu título de maior festa junina do mundo, com mais de 800 atrações em São Luís e no interior — um aumento de 55,7% em relação ao ano anterior
Do batuque das matracas em São Luís ao brilho das fantasias nos arraiais espalhados pelo estado, o São João do Maranhão se firma como uma das maiores festas populares do país. Reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, o Bumba Meu Boi é o coração da celebração que une heranças indígenas, africanas e europeias. Além de manter viva a tradição, as atrações impulsionam o turismo, geram empregos e movimentam a economia local.
Os festejos duram aproximadamente 60 dias, com uma programação diversificada que se estende por diversos polos e arraiais gratuitos. Em 2025, o São João do Maranhão confirmou seu título de maior festa junina do mundo, reunindo mais de 800 atrações culturais espalhadas por mais de 30 arraiais em São Luís e no interior — um aumento de 55,7% em relação ao ano anterior. As festividades incluem apresentações de Bumba Meu Boi, cacuriá, quadrilhas, tambor de crioula e outras manifestações culturais maranhenses.
— Temos eventos regionais em cada cidade. Uma grande estratégia do governador Carlos Brandão é fazer parcerias com os prefeitos. Cerca de 80% dos municípios maranhenses recebem recursos do estado para investir nas festividades juninas. Não são todos porque nem todos focam em São João. Nosso estado é muito grande e tem suas particularidades. Temos diversos editais para fazedores de cultura — explica o secretário de Cultura do Maranhão, Yuri Arruda.
O Bumba Meu Boi é a principal manifestação cultural do Maranhão e um dos maiores símbolos do São João no estado. Trata-se de um auto popular dramático-musical, com elementos de teatro, dança, música e religião, que gira em torno da morte e ressurreição de um boi.
A história tem raízes no século 18 e resulta da fusão de tradições indígenas, africanas e europeias. A narrativa básica conta a história de Catirina e Pai Francisco, um casal de trabalhadores de fazenda. Grávida, Catirina deseja comer a língua do boi favorito do patrão. Para satisfazer o desejo da esposa, Pai Francisco mata o animal. A partir daí, o enredo se desenrola com humor e dramatização, envolvendo a morte, o julgamento e a ressurreição do boi, geralmente com a ajuda de curandeiros ou figuras místicas.
No Maranhão, essa manifestação ganhou formatos únicos chamados de sotaques, que são variações regionais nas músicas, ritmos, figurinos e personagens. Os principais sotaques são Matraca, Zabumba, Orquestra, Baixada e Costa de Mão. Sua importância é tamanha que, em 2019, o Complexo Cultural do Bumba Meu Boi foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.
A estudante Nayane Azevedo, de 23 anos, é uma das índias guerreiras do Boi d’Itapari desde o seu surgimento, na década passada. O grupo nasceu nas escolas e, com dedicação dos alunos, começou a se apresentar em arraiais pelo estado. Com o tema “Os tambores de São Luís”, inspirado no romance de Josué Montello, a equipe se empenhou por cerca de quatro meses na produção de indumentárias, composição de músicas e ensaios de coreografias para encantar os palcos maranhenses.
— Todo ano a gente tem um tema, com uma música. E esse ano, são dez anos de Boi d’Itapari. Estou muito feliz por fazer parte de mais um São João, estou realizada, me sentindo maravilhosamente feliz — relatou Nayane, após a apresentação do grupo em um dos dias de festejo no tradicional Arraial do Ipem.
No Centro Histórico da capital maranhense, apresentações do ritmo Cacuriá também embalam turistas e moradores. Criado a partir das celebrações do Divino Espírito Santo, o estilo é uma dança popular marcada por coreografias sensuais, versos improvisados e batidas fortes das caixas tocadas por mulheres — as “caixeiras”.
A manifestação, eternizada por Dona Teté, mistura carimbó com elementos locais e tornou-se símbolo de alegria, irreverência e resistência cultural, conta a dançarina Elizete Campos, que tem 43 anos e integra um grupo do Cacuriá há 18. No São João, a dança ocupa os palcos dos arraiais como expressão viva da identidade maranhense, encantando públicos com sua energia contagiante.
— O Cacuriá é uma dança única, criada aqui no Maranhão, cheia de alegria, energia e sensualidade. A gente dança o ano inteiro, mas no São João é onde tudo ganha força. É uma forma de mostrar o quanto a gente ama e respeita essa herança cultural. A sensualidade está ali, sim, mas com muito cuidado e respeito. É expressão, não vulgaridade. Quando dançamos, é a nossa história que está no palco — afirma a dançarina.
No ano passado, o evento gerou uma movimentação econômica de R$ 250 milhões, segundo dados do governo do estado. Para este ano, a expectativa é repetir ou até superar esse número. O investimento nas atrações locais saltou para R$ 25 milhões, com um aumento de 30% no cachê dos artistas populares — muitos deles sem reajuste havia mais de uma década.
O impacto se estende para o mercado de trabalho: cerca de 55 mil pessoas estão envolvidas diretamente na produção do São João, entre profissionais de som, iluminação, segurança, logística, montagem e alimentação.
Entre chapéus artesanais, o cheiro de mingau de milho e o som estridente das matracas, Kelly Cristina, de 50 anos, observa, com olhos brilhando, mais uma noite de festa no arraial de São Luís. Cozinheira e frequentadora assídua do São João desde que nasceu, ela conta que ir ao festejo é uma tradição familiar, além de uma fonte de renda para a irmã, que é artesã.
— Aqui no Maranhão, o boi é tudo. A gente cresce vendo, ouvindo, dançando boi. É a nossa cultura. Eu sou apaixonada pelo Maioba e pelo Maracanã. Não sei nem como consigo torcer pelos dois! E o São João movimenta tudo: vem a família inteira, anima a gente, e quem trabalha com comida, artesanato, vende bem. É o melhor período do ano — diz.
O reflexo se sente também no turismo. Junho e julho foram os meses com maior fluxo aéreo no Aeroporto de São Luís em 2024, com mais de 160 mil desembarques. A ocupação hoteleira beirou os 90% na capital e 83% nos Lençóis Maranhenses, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Maranhão.
Entre dunas e lagoas, a cidade de Barreirinhas se aquece para a temporada, enquanto em Atins e Santo Amaro cresce a procura por experiências que misturam natureza e cultura. Em paralelo, ações como o programa “Recicla, Siô” envolvem catadores na coleta seletiva durante as festas, promovendo inclusão social e sustentabilidade.
(A repórter viajou a convite da FSB)
BS20250630195009.1 – https://extra.globo.com/brasil/noticia/2025/06/bumba-meu-boi-e-ritmos-maranhenses-embalam-dois-meses-de-sao-joao-com-mais-de-800-atracoes.ghtml
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