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20 de abril, 2021

Um imposto mundial e as piadas de Bolsonaro   Imposto mundial Há coisa de dois anos o economista e filósofo estadunidense Joseph Stiglitz apresentou proposta que, […]

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Um imposto mundial e as piadas de Bolsonaro

 

Imposto mundial

Há coisa de dois anos o economista e filósofo estadunidense Joseph Stiglitz apresentou proposta que, inusitada, causou estranheza e resistência até cair (provisoriamente, ver-se-ia) no esquecimento. Considerado neokeynesiano, Stiglitz é pensador cuja originalidade ultrapassa rótulos, abrangente em interesses e abordagens.

Ultimamente tem-se preocupado com a crescente desigualdade de renda entre pessoas, nações e foi para atenuá-la que sugeriu um ‘imposto mundial’, a incidir sobre grandes empresas e grupos transnacionais e arrecadado via acordos entre governos, com mediação de organismos multilaterais.

Utopia

À época comentei aqui a proposta, considerei-a promissora. Mas alguns leitores receberam-na mal, acoimando-a inviável; utópica, até – e por que recusar a utopia?

Um deles permitiu-se ridicularizá-la e fazer pouco da sapiência e senso de oportunidade do autor.

Lembro-me de haver defendido o criativo, revolucionário Stiglitz e insistido na validade da ideia, merecedora de estudos e debates em busca de meios de implementá-la a médio prazo, se inviável de imediato.

Chegou a hora

Pois o médio prazo cumpriu-se e a ideia volta com força, no bojo do trilhonário (em dólares!) programa de recuperação da economia pós-covid e transformação da estrutura produtiva conforme preceitos socioambientais, concebido pelo governo dos Estados Unidos.

Parece que os estrategistas de Joe Biden, ao propor exatamente um ‘imposto global’, sob roupagem só um pouco diferente – algo como um mecanismo equalizador da tributação das empresas mundiais –, visam mais evitar a excessiva mobilidade com que os capitais escapam aos impostos do que gerar recursos para minorar a pobreza e a desigualdade, embora políticas sociais com tal escopo façam parte do ‘pacote’.

É blefe!

Além do mais, desconfio de que o viés igualitário acabará por sobrepujar o fiscal. Isso porque têm sido, no mínimo, exagerados os temores de que o capital desloque-se a ambientes tributários menos gravosos quando governos cobram-lhe maior contribuição ao atendimento das necessidades sociais.

Migrações dessa ordem, em tal contexto, são empreitadas complexas, envolvem custos (não só financeiros) tão maiores quanto mais avantajado o porte das organizações. Quase sempre a hipótese de mudança esgota-se em si mesma, ameaça dificilmente concretizada que os governos aprendem a combater, quando não a ignoram.

Mudanças revertidas

Dois exemplos recentes revelam a falácia e desnudam a chantagem com que o grande capital procura submeter governos e mercados.

O primeiro, de corte internacional, ocorreu em França quando o presidente socialista François Hollande (2012–17) aumentou impostos para custear a recuperação do estado de bem-estar, fragilizado pelo subfinanciamento em sucessivos governos de centro-direita. Anunciaram-se mudanças de empresas para mercados mais permissivos, alguns movimentos até aconteceram mas reverteram-se e, feitas as contas, as transnacionais francesas continuaram francesas e houveram-se muito bem mundialmente.

Tudo ao contrário

Fenômeno análogo ocorreu na mais poderosa nação do mundo cujos estados, unidos em federação, comportam-se não raro como se confederados. A Califórnia, maior e mais rico dos estados então não muito unidos, opôs-se à política tributária de Donald Trump (aquela avantesma que infelicitou Eua e mundo de 2017 a 2021).

Washington cortara drasticamente impostos, conforme o receituário ultraliberal, ao que o governo democrata californiano reagiu compensando as perdas de repasses da União mediante elevação de tributos estaduais, a proteger-se de déficits e evitar cortes em programas sociais.

De pronto ameaçou-se debandada de empresas e investimentos; tudo mentira: enquanto isso a economia regional só prosperava.

Vulcão sob o Alvorada

– Vamos esperar o trânsito do sol e da lua nos próximos dias… – impacienta-se Elmer Correa Barbosa ao comentar as conjeturas desta coluna, semana passada, sobre a Cpi da covid-19, ora em instalação no Senado.

O leitor oscila entre a desconfiança (“Estamos todos ansiosos mas céticos, pois há o perigo de dar em nada”) e a convicção de que como está não pode ficar:

– Acho que sob o Alvorada há um vulcão prestes a entrar em erupção. Venho dizendo a amigos que este genocida sai antes de agosto […], não acredito que os militares estão satisfeitos com ele, embora o estejam os políticos de sempre.

Presidente transtornado

Resgato, de anterior mensagem do mesmo Elmer, remissão histórica bastante oportuna:

– Tivemos um presidente da República, Delfim Moreira, […] que era bipolar. Seus transtornos comportamentais […] vieram a público em 1921, em pronunciamento de Rui Barbosa [sobre] entrevista com o presidente, ‘um homem deprimido, inseguro e com delírios persecutórios’. Para controlá-lo os militares colocaram Afrânio de Melo Franco ao lado do infeliz Delfim.

Autor de ferozes panfletos cuja excelência já testemunhei, dessa vez Barbosa foi tão sutil que devo interpretar-lhe a possível constatação de que bem precisaríamos de outro ‘domador’ de presidente ensandecido; vejam como ele finaliza a mensagem:

– […] Logo no início da pandemia eu enfatizava que o presidente é um psicopata.

Terrorista confesso

Não quero, porém, tisnar a imagem do emérito panfletário ao revelar-lhe eventual sutileza: fiel a seu estilo, em outra manifestação ele produzira lapidar (estrito senso) crítica a Bolsonaro:

– Um terrorista confesso, tenente expulso do exército mas que se diz militar […]. E arremata, mais Elmer Barbosa do que nunca:

– O Brasil e os brasileiros chegaram onde de nunca saíram, da barbárie à decadência sem nunca ter conhecido a civilização.

(Erudito, ele interpreta a boutade do antropólogo e filósofo Claude Lévi-Strauss, que aqui viveu alguns anos a participar da criação a Universidade de São Paulo.)

Tenente, não capitão

– Não entendo porque você chama Bolsonaro de ex-capitão – a invectiva de Mário Arcanjo chega bem a propósito – ele só chegou a primeiro-tenente [..] em promoções todas por tempo de serviço [quer dizer, nenhuma por mérito].

– Depois se envolveu em atos terroristas – continua o assíduo leitor e crítico – por isso foi excluído ou conforme a versão oficial passou para a reserva, para não ficar muito feio para o Exército. E virou capitão porque a promoção era automática naquele tempo, ao vestir o pijama. […]. E conclui:

– Se quiser corrigir a história mal contada, deve dizer que é um ex-tenente.

Então, ‘tá, Arcanjo.

Progressão concluída

Há três semanas admirei aqui a progressão do leitor Célio Alves Costa, que passava do apoio decidido à relutante, mas crescente oposição a Bolsonaro; cogitava se sua evolução representaria a de milhões, certo a maioria dos que só escolheram o ex-tenente (já aprendi!, viu? Arcanjo) porque queriam derrotar o Pt e hoje se decepcionam.

Registro agora outra manifestação de Célio, a confirmar a transição e peço desculpas se não o fiz em edição anterior: é que ainda não a encontrara na bagunça de meus arquivos.

Apresento-a, pois e permito-me pontuar com as minhas as suas opiniões.

Promissor mas incapaz

– Até há um ano o desempenho do governo Bolsonaro, com todas as restrições, era promissor, no rumo certo [você acha?, mesmo?]. Reforma da previdência [herança de Temer, só que piorada] e perspectivas da agenda liberal, leia-se Paulo Guedes [e isso era bom?!].

A pandemia derrotou Bolsonaro, por sua incapacidade de liderar e coordenar as providências para enfrentar a crise sanitária e econômico-financeira tempestivamente [começamos a concordar].

Palavra certa

– Manter a polarização Bolsonaro x Pt/Lula é garantia de atraso [muito bom!]. Qualquer resultado dessa polarização é manter o Brasil incapaz de tomar novo rumo e progredir, urge enfiar uma cunha liberal nessa briga de foice no escuro [de acordo outra vez, desde que a “cunha liberal” seja política, não econômica].

Social democracia com outro rótulo, dado o fracasso do Psdb. #PTnuncamais. #acontinuacaodebolsonarodeveserevitada.

Ora!, Célio, deixe de eufemismos, use as palavras certas: #forabolsonaro.

Piadas de Bolsonaro…

Em mensagem amável a querida amiga Maria José Féres, professora e companheira de muitas lutas, declara-se “deliciada com o lobby dos jacarés temerosos de virar bolsonaros”.

Pois é, Zezé, as conversas on line que substituem (mal) os bons e velhos papos de botequim já não se iniciam com piadas ‘politicamente incorretas’: “Já ouviu a última do português?” nem com as dos papagaios espertos que levavam a melhor sobre algum membro dos discriminados grupos nacionais ou étnicos (“Ei, crioulo, pra quem não tem asa tu ‘tava muito atrevido!”).

Agora os papos de bar começam assim: “Sabe da última?, Bolsonaro vem andando pela rua…”.

…com verbos no passado

O jeito é esperar algum alívio na pandemia (e nenhum alívio na Cpi) para o povo voltar às ruas ou de qualquer outra forma propugnar, com sucesso, o impeachment dessa figura.

Até pra que a gente possa voltar aos botecos e contar as derradeiras do Bolsonaro – com os verbos no passado.

Estou em Dourados!

Registro, vaidoso (e informo aos que me leem nos demais veículos), que desde a semana passada esta coluna passou a ser publicada no Douranews – O Jornal de Dourados, editado na bela cidade do Mato Grosso do Sul, centro de uma região rica e dinâmica.

Conheci Dourados e sua área de influência na década de 1970, em estadas infelizmente poucas e curtas; cumpria duplas jornadas de trabalho, técnico de planejamento do Ipea e jornalista, quando acompanhei e modestamente participei da implementação do Programa da Grande Dourados, do Ministério do Interior.

Tudo pela mão do titular da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), o querido amigo Nelson Jairo (saudades!…).

Propaganda enganosa

O editor do Douranews recebeu-me generosamente (obrigado!), com direito até a fotografia; a qual, devo confessar, é propaganda enganosa: foi clicada há duas décadas!, se me faz justiça às barbas já brancas deixa de constatar as muitas rugas que ganhei e os cabelos que perdi; menos mal se perdi também uns tantos quilos…

Pensando bem, acho que vou enviar uma foto atual.

 

 

Tributo a Octavio Malta (Última Hora, Rio, circa 1960)
Marco Antônio Pontes
([email protected] ou [email protected])