CULTURA
Divas do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
12 de dezembro, 2020Atrizes consagradas recordam as ocasiões em que foram homenageadas com o troféu Candango Quem viu a cena não se esquece. Foi um ato de emoção […]
Atrizes consagradas recordam as ocasiões em que foram homenageadas com o troféu Candango
Quem viu a cena não se esquece. Foi um ato de emoção que contagiou toda a sala do Cine Brasília naquela 13ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB). O ano era o de 1985 e, de repente, a atriz Marcélia Cartaxo, então com vinte e poucos anos, estava sendo carregada pelo público, de mão em mão, numa intensa e grande corrente de amor, até ao palco. Lá, ao lado da cineasta Suzana Amaral, era coberta de flores, abraços e aplausos que duraram infinitos dez minutos.
Atriz Marcélia Cartaxo– Foto: Divulgação
“Foi uma coisa inesquecível”, recorda a atriz, emocionada até hoje com a lembrança. “Foi assim que eu entrei no cinema brasileiro, que a vida me definiu enquanto artista, me dizendo que eu ia seguir essa trajetória e que seria para sempre, porque, depois que bebe água artística, nunca mais você consegue sair desse lago.”
Tudo isso aconteceu após a sessão do filme A Hora da Estrela, de Suzana Amaral, um marco do cinema nacional e, até então, um dos poucos trabalhos conduzidos por mãos femininas. Baseado em obra homônima de Clarice Lispector, o projeto, protagonizado por Marcélia, narra a história de Macabéa, uma mulher nordestina sonhadora que vive as agruras e peripécias do amor numa cidade grande. O papel, um dos mais marcantes das telonas, consagraria Marcélia com o primeiro Candango de Melhor Atriz no Festival de Brasília.
Atriz Suzana Amaral–Foto: Divulgação
“Foi o meu passaporte para a arte”Marcélia Cartaxo, atriz
“Aquilo realmente me pegou de surpresa, foi um grande acontecimento na minha vida”, relembra a artista. “Nunca tinha vivenciado algo assim, nem no teatro. Foi o meu passaporte para a arte. Ali constatou que realmente a minha carreira profissional seria por meio da arte”. Marcélia voltaria a erguer o Candango de Melhor Atriz por sua atuação no longa Big Jato, de Cláudio Assis, em 2015.
Damas do Candango
Grandes atrizes nacionais foram premiadas no festival mais importante e antigo do país – uma tradição que empolga o público, convidados e enche de glamour o evento conhecido pelo seu tom político e contestatório.
A primeira estrela a receber o prêmio de Melhor Atriz no FBCB foi Fernanda Montenegro, com o filme A Falecida, do cineasta Leon Hirszman. Baseado em texto de Nelson Rodrigues, o longa, uma pérola do Cinema Novo, foi exibido quando o evento ainda se chamava Semana do Cinema Brasileiro e o prêmio era uma placa e não a estatueta em si, que apareceria mais tarde.
“Tenho uma história minha por aí de que é impossível esquecer”, comentaria Fernanda Montenegro, anos depois, em uma entrevista ao jornal Correio Braziliense. “É um festival que cuida do cinema brasileiro. Respeita e é resultado da produção em cinema nacional.”
Joana Fomm, a eterna vilã Perpétua da novela Tieta (1989), é outra diva consagrada na telona pelo Candango. Ela é a campeã em participações no Festival de Brasília, no qual concorreu oito vezes ao prêmio de Melhor Atriz – reconhecimento que chegou em 1990, com o drama Césio 137, de Roberto Pires.
Atriz Joana Fomm — (Foto: Divulgação)
Irreverência
Em 1982, a musa Vera Fischer ganharia nessa categoria com o polêmico Amor, Estranho Amor, de Walter Hugo Khouri. Um dos detalhes que tornou o filme famoso foi o fato de ter no elenco Xuxa, cuja personagem aparecia nua. A ex-apresentadora chegou a anunciar sua presença na premiação, mas não veio.
Atriz Vera Fischer_ Foto: Gabriel CamargoNa 20ª edição da mostra, em 1987, Louise Cardoso, homenageando Leila Diniz, levaria o prêmio no papel da diva rebelde que, por sua vez, perderia a “placa” de Melhor Atriz, em 1966, para a exuberante Helena Ignez, em O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade. À época, Leila Diniz, uma sensação no festival e na capital, por onde passava, concorria com Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos Oliveira, vencedor daquela segunda Semana do Cinema Brasileiro.
“Para mim o Festival de Brasília significa muitíssimo”, reconhece Helena Ignez, que voltaria a receber o prêmio de Melhor Atriz, três anos depois, em 1969, com o irreverente A Mulher de Todos, dirigido pelo marido, Rogério Sganzerla. “Foram anos seguidos de premiação, eu ainda muito jovem e isso significou muito para mim”, conta ela, que, quando ganhou o segundo prêmio, tinha apenas 27 anos. Helena voltaria a participar do festival nos anos 2000, na condição de produtora e de diretora.
Em 1976, Zezé Motta seria outra diva aclamada no palco do Cine Brasília pelo empolgante Xica da Silva, de Cacá Diegues. Zezé retornaria ao festival em 2017 compondo o elenco do agraciado filme de horror O Nó do Diabo, dirigido por Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhésus Tribuzi.
Atriz Zezé Motta _Foto: Divulgação
Multipremiada
Musa do cinema contemporâneo brasileiro, a atriz paraense Dira Paes também se tornou recorrente na cerimônia de premiação do Festival de Brasília. Ela conquistou cinco troféus Candango – três na categoria Melhor Atriz e dois como Atriz Coadjuvante. O primeiro foi em 1996, no papel feminino de Corisco & Dadá, filme de Rosemberg Cariry. Sob direção de Cláudio Assis, foram dois prêmios conquistados: em 2002, pela personagem Kika, de Amarelo Manga; e em 2006, no papel de Bela, em Baixio das Bestas.
“O Festival de Brasília é um marco na minha carreira”, comenta Dira. “Foi o lugar onde mais tive trocas com os outros profissionais do cinema. Foi o lugar perfeito para entender os debates políticos, a cultura do audiovisual e sobre estilos, devido à grande diversidade que o evento sempre teve”.
Atriz Dira Paes– Foto: Globo/Sergio Zalis
Para ela, o Candango trouxe muita alegria, especialmente no seu primeiro ano de participação na mostra competitiva. “Foi um dos momentos mais felizes da minha carreira, era um ano com muitos filmes interessantes, estávamos voltando da retomada do cinema brasileiro e jamais esperei vencer na primeira participação, isso é muito marcante”, conclui.
* Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec)