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Equipe é capacitada para atendimento a indígenas na UBS 6 do Paranoá

1 de março, 2024 / Por: Agência Brasília

Treinamento busca mitigar barreiras culturais por meio da informação e do acolhimento qualificado

Equipe é capacitada para atendimento a indígenas na UBS 6 do Paranoá
Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF

Equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) 6 do Paranoá, teve a semana marcada por palestras e debates para a – Cariru. Com enfoque na população indígena, um curso ministrado na terça-feira (27) capacitou os profissionais que atuam na zona rural e lidam mais diretamente com as comunidades.

Durante o evento, a convite da Organização Internacional para as Migrações (OIM) no Distrito Federal, Leany Torres Moraleda, da etnia Warao e assistente de projeto da entidade, informou sobre a cultura, o histórico de mobilidade, a forma de reorganização e a temática sobre saúde e medicina nesses grupos. 

“É essencial ter essa comunicação intercultural, além de reconhecer o papel das lideranças indígenas nesse contexto”, diz Leany Torres Moraleda, assistente de projeto da OIM | Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF

“Como indígenas, o primeiro tratamento é sempre a nossa medicina”, ressaltou. “A não indígena é a segunda opção. Reconhecendo isso, as equipes de saúde pública entendem as especificidades antes da abordagem. Elas passam a servir de ponte entre o atendimento médico convencional e o nosso.”

Interação

Para Leany, outro desafio recorrente no Brasil é a importância de ter tradutores, intérpretes e mediadores culturais no momento da assistência. “É essencial ter essa comunicação intercultural, além de reconhecer o papel das lideranças indígenas nesse contexto”, complementou.

“É fundamental que os profissionais da UBS entendam a cultura e criem mecanismos e estratégias mais eficazes para conseguir interagir melhor com esses grupos”

Lucas de Queiroz Valença, gerente da UBS 6 Paranoá-Cariru

Gerente da UBS 6 Cariru, Lucas de Queiroz Valença lembrou que a equipe recebeu a comunidade indígena há cerca de dois anos e percebeu obstáculos na interação por questões linguísticas e culturais. “Esse conflito dificultava a oferta dos serviços de saúde em sua plenitude”, afirmou. Desde então, cursos e treinamentos têm conseguido aproximar a UBS dos indígenas, possibilitando um melhor atendimento.

“É fundamental que os profissionais da UBS entendam a cultura e criem mecanismos e estratégias mais eficazes para conseguir interagir melhor com esses grupos”, reforçou Lucas. “A nossa médica é cubana e fala espanhol. Muitos waraos também reconhecem esse idioma; então, quando o paciente não fala espanhol, existe um tradutor da própria comunidade. Alguns indígenas estão aprendendo português também.”

Público-alvo

O curso é voltado às equipes de Saúde da Família, que são referência no atendimento de populações indígenas residentes no DF. Os profissionais recebem treinamento continuado para que sejam capazes de prestar uma assistência que atinja a competência cultural dessas comunidades, dirimindo os problemas de saúde do grupo.

“Tudo que pudermos aprender sobre esses grupos auxilia em um atendimento mais completo”

Alessandra Pereira dos Santos, agente comunitária de saúde

“Quando ficamos doentes, buscamos atendimento na nossa medicina”, pontuou o gerente de Atenção à Saúde de Populações em Situação Vulnerável e Programas Especiais, Fernando Natal. “Outras populações, no entanto, como os waraos, possuem um jeito próprio de entender o tratamento. Como profissionais de saúde, devemos buscar compreender como funciona esse sistema e, assim, ajudar a minimizar os riscos de doenças. Essa é a importância do curso.”

Atendimento completo

Atenta aos ensinamentos do curso, a agente comunitária de saúde (ACS) Alessandra Pereira dos Santos disse que toda informação já auxilia no manejo com o paciente: “Tudo que pudermos aprender sobre esses grupos auxilia em um atendimento mais completo”.

Representantes da organização global Aldeias Infantis SOS, que atua no acolhimento e na assistência a crianças, adolescentes, jovens e suas famílias venezuelanas em situação de refúgio no Brasil, também participaram da capacitação. Assistente social da entidade, Iuri de Lima contou que a instituição trabalha em um projeto com os waraos desde setembro de 2023, visando ao desenvolvimento da comunidade. 

“Fazemos um papel de mediação entre a comunidade e os órgãos públicos”, detalhou. “O treinamento na UBS 6, que atende aos waraos, é algo que abre os olhos, disseminando informação. Todos os que atendem a essa comunidade precisam ter uma visão completa, e vemos o interesse dos profissionais de saúde nisso.”

Tratamento indígena

Na medicina Warao, segundo Moraleda, há três níveis de atendimento de saúde. A primeira abrange doenças comuns, tratadas com plantas medicinais preparadas por mulheres da comunidade (hierbateras). Há ainda doenças causadas por espíritos – para isso, a etnia conta com os wisidatus, jobarutus e bajanarotus (médicos indígenas conhecedores do mundo espiritual). Já enfermidades transmitidas por terceiros, como sarampo, febre amarela, vírus da imunodeficiência humana (HIV), tuberculose etc., são tratadas em hospitais e outras unidades de saúde.

*Com informações da Secretaria de Saúde