Marcinho VP é um nome que carrega peso histórico nas manchetes brasileiras. Símbolo do crime organizado nos anos 1990 e 2000, seu nome foi cristalizado no imaginário popular como sinônimo de violência, poder e tráfico. Mas por trás do rótulo midiático, existe outra história — íntima, invisível e surpreendente. Uma história que poucos conhecem: a de um pai presente, mesmo dentro de uma cela de segurança máxima.

Essa outra face de Márcio dos Santos Nepomuceno, o homem por trás do apelido, se revela na relação com sua filha mais velha, Débora Gama. Cantora gospel, formada em Arquitetura e Urbanismo, casada e líder de um ministério cristão itinerante, Débora percorre igrejas pelo país levando louvores, testemunhos e, acima de tudo, uma história de superação espiritual — profundamente marcada pela presença do pai.

Em entrevistas e ministrações, Débora não esconde o orgulho e a admiração que sente. O vínculo entre eles foi sustentado por cartas, visitas, conversas profundas e, principalmente, por composições musicais escritas por Marcinho dentro da prisão. Muitas das músicas que ela canta hoje nasceram atrás das grades: letras manuscritas que falam de fé, dor, redenção e superação, enviadas com orientações detalhadas sobre ritmo, entonação e a mensagem que deveriam carregar.

Mais do que compor, Marcinho se tornou um mentor espiritual e emocional. Encorajou a filha a transformar a dor da ausência em força criativa. Mostrou, por meio da própria experiência de queda e busca por redenção, que as escolhas moldam destinos — e que ela tinha o poder de escrever uma história completamente diferente da dele.

A influência foi tão marcante que Débora costuma dizer nos cultos:

“Meu pai me ensinou que a ausência dele não era motivo para revolta, mas para oração.”

Mesmo encarcerado, ele acompanha cada passo da filha. Envia reflexões bíblicas, conselhos espirituais e alertas sobre como se manter firme diante das pressões externas e do preconceito. A presença de Marcinho em sua caminhada desafia estigmas. Ser filha de um dos nomes mais conhecidos do tráfico não foi fácil. Mas a fé — somada à figura presente do pai, mesmo à distância — foi determinante para que Débora seguisse no caminho do louvor e da transformação.

Hoje, ela lidera projetos missionários, canta em igrejas por todo o Brasil e emociona fiéis com seu testemunho. Seu ministério, que mistura música e mensagem, é também uma ponte entre passado e presente — entre o cárcere e a liberdade espiritual.

O que Marcinho construiu com a filha talvez não seja visível aos olhos da justiça formal, mas é sentido profundamente por quem ouve suas canções e conhece sua trajetória. Entre cartas e composições, ele se fez presente — não como um fantasma do passado, mas como um pai que, apesar de tudo, nunca deixou de acreditar no poder da transformação.

BS20250603232814.1 – https://extra.globo.com/entretenimento/noticia/2025/06/marcinho-vp-compos-cancoes-para-filha-a-cantora-gospel-debora-gama.ghtml