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CULTURA

Memorial Afro-Candango de portas abertas para escolas públicas do DF

26 de agosto, 2024

Em uma jornada imersiva, estudantes têm a oportunidade de se conectar com raízes afro-brasileiras e obras de artistas locais

Memorial Afro-Candango de portas abertas para escolas públicas do DF
A conexão profunda com a ancestralidade afro está expressa nas majestosas obras de Tainã Fulô e Josafá Neves - foto: Maria de Aquino

Estudantes de escolas da rede pública do Distrito Federal agora podem ter experiência imersiva em raízes afro-brasileiras, por meio de visitação ao Memorial Afro-Candango, no Ilê Axé Oyá Bagan, localizado no Núcleo Rural Córrego Tamanduá, Trecho 7, Chácara 13, Setor de Chácaras Lago Norte. As visitas devem ser agendadas pelo endereço de e-mail [email protected].

O memorial foi delicadamente planejado e dividido em cinco setores: Espaço Mitologia dos Orixás (mural artístico com pinturas dos 16 orixás da casa pelo artista Odrus), Espaço Legado de Oyá Bagan (exposição fotográfica da memória do terreiro), Espaço Orixás e seus Símbolos (exposição cenográfica com orixás da casa) e Jardim dos Símbolos (placas com máscaras das culturas de matrizes africana).

Em agosto de 2024, foi inaugurado o Jardim dos Itans, que são narrativas sagradas da tradição oral iorubá, que carregam ensinamentos, valores e sabedoria ancestral. No novo espaço, essas histórias ganham vida, conectando as jovens gerações às raízes profundas da cultura que sustenta a nossa identidade.

Artistas

Durante a jornada cultural no memorial, os estudantes também têm a oportunidade de visitar a exposição que celebra a conexão profunda com a ancestralidade afro, expressa nas majestosas obras de Tainã Fulô e Josafá Neves.

De Belém (PA) e radicada em Brasília, Tainã é formada em Artes Plásticas pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes (FADM), além de especialista em História da África e da Diáspora Atlântica pelo Instituto Pretos Novos (IPN). Mãe, professora e arte-educadora, começou sua trajetória na pintura em ruas de Ceilândia em 2009, onde desenvolveu uma forte ligação com o graffiti. Sua arte é profundamente influenciada pelas estéticas das tradições africanas e ameríndias.

A artista promete ao público o contato com raízes afro-indígenas, com obras que homenageiam entidades como a cabocla Jurema, caboclos como Tupinambá, Sete Flechas e Boiadeiro, e a liderança indígena cacique Tononé Kariri Xocó. “As pinturas são um convite ao reconhecimento da força histórica dessas figuras, a sabedoria, a luta e a espiritualidade que elas representam”, afirma Tainã.

Autodidata, Josafá Neves dedica-se, há 24 anos, integralmente às artes, com obras que incluem óleo sobre tela, desenho, escultura, cerâmica e instalações, exibidas em lugares como Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Paris, Havana e Angola. Um aspecto fascinante de sua arte é o uso consciente de uma “pele negra” nas telas: pinta todas as superfícies de preto antes de aplicar outras cores, criando uma atmosfera que reflete a identidade afro-brasileira.

As obras de Josafá garantem uma experiência rica em simbolismo e espiritualidade, com pinturas dos Orixás do panteão iorubano cultuados no Brasil, como Oxóssi, Oxum, Oxalá, Exú e Oyá, que são forças da natureza. “Cada obra foi cuidadosamente elaborada utilizando cores, geometria e símbolos tradicionais dos orixás. É uma conexão entre o divino e o humano, sobre manter viva a herança ancestral afro-brasileira”, detalha Neves.

Local recebeu o título de Ponto de Cultura do Ministério da Cultura – foto: Maria de Aquino

Liderança e luta contra o racismo religioso no DF

A sacerdotisa do terreiro, Mãe Baiana de Oyá, conta que a ideia do memorial, inaugurado em 2022, veio com a luta contra o racismo religioso, que foi intensificada após o incêndio criminoso que atingiu o templo em 2015. “O memorial não podia deixar de existir. Quando você tem convicção da sua fé, ninguém te tira de lá”, determina Mãe Baiana.

Além dos painéis do Orixás, representantes da natureza, o memorial também conta a história da África e da Lei 10.639 de 2003, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas de educação básica, públicas e privadas. “Como o povo preto chegou ao Brasil? O que alcançou depois de construir o Brasil? Qual é a nossa esperança?”, diz ao listar as perguntas provocadas pelo memorial, que cuida com tanto zelo. “Esperamos que o público goste independente do segmento religioso”, conclui a sacerdotisa.

“Nosso território foi premiado pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal pela importância do nosso fazer cultural e, também, recebeu o título de Ponto de Cultura do Ministério da Cultura. Além disso, somos certificados como Ponto de Memória pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), uma conquista que se deve ao lançamento do nosso Memorial”, relembra Stéffanie Oliveira, presidenta do Instituto Rosa dos Ventos, que realiza o projeto.

Serviço

Visitação de escolas ao Memorial Ilê Axé Oyá Bagan.
Local: Ilê Axé Oyá Bagan – Núcleo Rural Tamanduá – Brasília, DF, 70297-400.
Agendamento: [email protected].
Rede Social: https://www.instagram.com/ileaxeoyabagan/