Após eleição de Motta e Alcolumbre, ministros e líderes no Congresso esperam avanço de reforma ministerial
Expectativa é de que Lula se reunia com Motta e Alcolumbre nesta segunda-feira
Vitoriosos de sábado devem abrir espaço para aliados que estavam distantes da antiga cúpula do Congresso
Ainda que representem a consolidação de um mesmo grupo no comando do Congresso, as vitórias de Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP) vão alçar novos nomes para o círculo próximo do poder na Câmara e no Senado. Os dois são aliados dos antigos ocupantes do cargo, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), mas são aconselhados também por parlamentares que estavam mais distantes da antiga cúpula. O novo desenho deverá ter influência em posições de destaque, como a relatoria do Orçamento, em gestos ora ao governo, ora à oposição, e até na composição do Tribunal de Contas da União (TCU).
Os principais padrinhos da candidatura de Motta foram Lira e os presidentes do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP). Interlocutores do novo chefe da Câmara pontuam, no entanto, que a relação política com Lira e Pereira é maior do que a relação pessoal. Ele é mais próximo aos líderes do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), do PP, Doutor Luizinho (RJ), e do PT, Odair Cunha (MG), além do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, deputado licenciado pelo Republicanos de Pernambuco.
Os três líderes foram articuladores da campanha de Motta e o acompanharam em viagens pelo Brasil, além de estarem presentes em anúncios de apoios de partidos diferentes das siglas lideradas por eles próprios. Silvio Costa Filho, por sua vez, foi um dos que ajudou Motta a ter diálogo com o governo. Já Ciro Nogueira e Luizinho foram facilitadores para conquistar a oposição.
Aliados de Motta relatam que é comum que ele participe de jantares com Luizinho, Isnaldo, Silvio Costa Filho e Odair — política e assuntos pessoais entram na conversa.
A proximidade também deve se reverter em protagonismo político. O líder do MDB, por exemplo, pleiteia para o seu partido a relatoria do Orçamento. Além disso, Isnaldo é um nome que a nova cúpula da Câmara vê com bons olhos para substituir o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
— Somos amigos há muito tempo, pensamos política com muita convergência. É uma questão natural, fomos formados no mesmo partido — afirma Isnaldo, lembrando o passado de Motta no MDB.
Por sua vez, Odair, que é líder do PT, fechou um acordo para o partido indicar um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) quando a próxima vaga estiver aberta.
Alcolumbre, por sua vez, tem uma proximidade grande com Pacheco, de quem articulou a campanha para a própria sucessão, em 2021 — agora, recebeu o favor de volta. O presidente do Senado tem em seu círculo mais restrito também o senador Marcos Rogério (PL-RO), que era do líder do DEM, partido de Alcolumbre em sua outra passagem pelo comando da Casa; o senador Eduardo Gomes (PL-TO), seu vice; e Weverton Rocha (PDT-MA), que assumiu relatórios importantes como as das eólicas offshores e lei de inelegibilidade.
O ministro da Integração Nacional, Waldez Góes, ex-governador do Amapá e que foi indicado por Alcolumbre para o cargo no governo, avalia que o senador, por ter grande apoio de vários partidos, vai ter que imprimir uma pluralidade na distribuição de espaços no Senado.
— Ele foi eleito com apoios do PL ao PT, não vai prestigiar mais pontualmente um ou outro. Claro que, por empatia, você tem relação mais com um e menos com outro, mas quando se trata da questão institucional, representativa, ele vai procurar ser correto com as representações das mais distintas regiões e partidos — avalia o ministro.
Escolhido para vice para atrair o PL, Gomes diz que as escolhas de Alcolumbre levam em conta também o “perfil” de cada aliado:
— Tem gente que se dedica mais à relatoria, outros que se dedicam mais ao debate. O Marcos Rogério faz oposição, eu faço oposição um pouco mais moderada.
Até o ano passado vice da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), então comandada por Alcolumbre, Marcos Rogério deverá ser escolhido para comandar a Comissão de Infraestrutura na nova gestão do comando do Senado.
No fim do ano passado, Alcolumbre já deu sinais de que cumprirá uma promessa de campanha e dará mais espaço para as pautas da oposição, como por exemplo, uma possibilidade de retomar no Congresso a discussão sobre a demarcação de terras indígenas.
Em sua última sessão como presidente da CCJ, Alcolumbre disse ter se sentido “enganado” pelo governo que, por meio de decretos, demarcou terras indígenas no começo do mês, em Santa Catarina, enquanto representantes dos Três Poderes conduziam um acordo sobre a questão em uma mesa de negociações, comandada pelo ministro Gilmar Mendes, do STF.
Outro tema que a oposição espera ver avançar nas mãos de Alcolumbre é a discussão sobre o mandato de ministros do STF, um assunto considerado mais ameno no pacote anti-Supremo que a direita defende. O projeto encontra resistências entre governistas.
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