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VARIEDADES

O que é intersexo? Influenciadora relata preconceito sofrido por ter a condição igual a do filho de Teca em ‘Renascer’: ‘Somos invisibilizados’

20 de junho, 2024 / Por: Agência O Globo

Na novela das nove, criança nasceu com características que se enquadram na denominação

O que é intersexo? Influenciadora relata preconceito sofrido por ter a condição igual a do filho de Teca em ‘Renascer’: ‘Somos invisibilizados’
Teca (Lívia Silva) com filho intersexo; Dionne Freitas — Foto: Reprodução/ Globoplay; Arquivo pessoal

A partir do nascimento do bebê de Teca (Lívia Silva) em ” Renascer”, muito vai se falar em pessoa intersexo na novela, já que a criança apresenta as características de indivíduos nessa condição. Nos próximos capítulos da trama, Buba (Gabriela Medeiros) e Augusto (Renan Monteiro) vão tentar entender a natureza de Cacau, nome que a criança receberá após ser confirmado que ela é uma pessoa que nasceu com características sexuais, incluindo genitais, que não se encaixam nas noções de corpos masculinos ou femininos.

Tal condição é semelhante a de Dionne Freitas, terapeuta ocupacional e influenciadora digital intersexo. A luta da paranaense por visibilidade vem desde seu nascimento, quando foi designada para o sexo masculino por sua genitália ser parecida com pênis. Conforme foi crescendo, Dionne foi entendendo que era uma mulher e, ao chegar na adolescência, os hormônios femininos vieram de forma natural.

Foi aí que percebeu que havia nascido em um corpo com características biológicas externas e internas de diferentes gêneros. Hoje a influenciadora, que é referência quando o assunto é intersexo, conta que muita gente não entende a condição e que a vitória sobre o preconceito ainda é uma utopia. Entenda:

O que é uma pessoa intersexo?

É um nome “guarda-chuva” de várias condições congênitas que alteram e diferenciam a formação do sexo biológico. Essas condições são muito diferentes entre si. Algumas pessoas podem apresentar uma genitália diferente do cromossomo que a designou. Ou então pode ter uma genital interna oposta a externa. Por exemplo: ter útero e pênis ao mesmo tempo, vagina externa e testículo interno, e por aí vai… No mundo existe macho e fêmea, mas também existe uma complexidade que está entre os dois.

Como construiu seu reconhecimento como pessoa intersexo?

Intersexo não é uma identidade, mas sim uma existência, um corpo que nasce com característica de dois sexos ou que nasce neutro. Me reconhecer é um processo que vem desde a infância, pois envolve minha autopercepção de gênero que ela é diferente do que falavam para mim. Quando eu nasci, acharam que eu era do sexo masculino por uma questão genital, mas não sabiam o que eu tinha uma questão intersexo interna. Com meu crescimento, fui tendo características ambíguas, com genitália não totalmente estruturada e corpo com aspectos de característica sexual feminina. Eu nunca me identifiquei como menino. Era como se eu vivesse um personagem para eu ter uma aceitação social. Em vários momentos me questionei, já que eu sabia que eu era uma menina. A primeira foi aos três anos. Tive mais repressão externa do que na família. Minha mãe tinha medo da reação das pessoas e a chance de eu sofrer alguma violência. Meu pai ainda tem as questões internas, mas hoje entende mais.

Dionne Freitas — Foto: Arquivo pessoal
Dionne Freitas — Foto: Arquivo pessoal

Como foi na escola?

Foi complicado porque eu sofri preconceito e discriminação. Por isso acredito na importância da discussão sobre o respeito e falar da diferença na escola. Na adolescência, com características femininas, independente da genitália, vieram os hormônios femininos de forma espontânea. Depois fiz reposição hormonal porque eu precisava repor para ter um equilíbrio hormonal.

Quais desafios que uma pessoa intersexo passa?

Primeiro você não tem uma sociedade que te reconhece. Se as pessoas não vivenciam, elas não conhecem. A gente não tem uma divulgação disso. Quando a gente tenta divulgar a assunto, as pessoas levam tudo pelo lado ideológico, por causa de briga política de esquerda e direita. O desafio começa quando se existe a invisibilidade. Claro que tem muito preconceito porque umas pessoas acham que só existem dois sexos e ignoram o espectro entre eles. Qualquer pessoa que tenha algo diferente disso é tratado com ódio. O desafio ainda nasce na infância, quando é imposto (seu sexo). Quando o genital é visível, ou se descobre algo interno, se opera. Não se espera a pessoa decidir, quem decide são os pais, que não vão vivenciar essas mudanças corporais.

Dionne Freitas — Foto: Arquivo pessoal
Dionne Freitas — Foto: Arquivo pessoal

Você se sente livre para ser quem é?

Não me sinto livre e muito menos segura, ainda mais pela violência no Brasil. Já é complicado para mulheres, imagina quando se tem uma característica social que te coloca como uma anormalidade… A gente vai passando por violência de gênero, violência afetiva, violência em relação às questões religiosas. Recentemente passei num concurso público E fui desclassificada após ser descriminada na entrevista. Eu já entrei com mandado de segurança. Mas para uma pessoa intersexo já começa quando se é bebê, quando é obrigado a criança a operar.

No dia 28 de junho, na próxima semana, é celebrado o Dia do Orgulho LGBTQIA+. Qual a importância da data?

É a visibilidade. Essa data marca dentro do ocidente um levante que teve contra a opressão a pessoas da comunidade LGBTQIA+, sigla que compreende não apenas diversidade de aspectos, que vão desde da identidade de gênero e da própria orientação sexual, de experiências e vivências da expressão do gênero, mas também da condição biológica intersexo (a letra , da sigla), que entra na questão congênita.

Dionne Freitas — Foto: Arquivo pessoal
Dionne Freitas — Foto: Arquivo pessoal

BS20240620090026.1 – https://extra.globo.com/entretenimento/noticia/2024/06/o-que-e-intersexo-influenciadora-relata-preconceito-sofrido-por-ter-a-condicao-igual-a-do-filho-de-teca-em-renascer-somos-invisibilizados.ghtml