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ESPORTES

Paulo Wanderley diz ter certeza de que, se reeleito, COB não sofrerá corte de verba pública: “Convicções pessoais”

2 de outubro, 2024

Atual presidente da entidade acredita que seu primeiro mandato foi “tampão” e que tem direito à reeleição

Paulo Wanderley diz ter certeza de que, se reeleito, COB não sofrerá corte de verba pública: “Convicções pessoais”
Paulo Wanderley: presidente do Comitê Olímpico do Brasil acredita que tem direito a mais um mandato — Foto: Divulgação COB

Paulo Wanderley, atual mandatário do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que concorre ao terceiro mandado à presidência da entidade, obteve sinal verde para a sua candidatura tanto da Comissão de Assessoramento Eleitoral como do Conselho de Ética, órgãos internos do COB. Ele tem Alberto Maciel Júnior, ex-presidente da Confederação Brasileira de Taekwondo como vice, e Marco La Porta e Yane Marques na chapa de oposição. O pleito acontecerá na quinta-feira, no Rio.

Em entrevista ao GLOBO, antes do posicionamento oficial da entidade, Wanderley fugiu do imbróglio jurídico em todas as respostas. É que tanto a Lei Geral do Esporte quanto o Estatuto da entidade determinam que o dirigente máximo de órgãos do Sistema Nacional do Desporto tenha um mandato de até quatro anos, permitida uma única recondução.

Em caso de vitória de Wanderley, o COB pode ter suspensos os repasses de verba pública e o contrato com a Caixa Econômica Federal. Mas Wanderley, que assumiu a presidência em 2017 e foi reeleito em 2020, garantiu que isso não ocorrerá, mesmo sem explicar o motivo pelo qual tem essa certeza. Ele também não garantiu que tem o aval do ministro do Esporte, André Fufuca, para o pleito.

O senhor acredita que tem direito a mais uma reeleição?

Acredito piamente nisso. Temos o Estatuto, Comissão Eleitoral, Comitê de Integridade, Comitê de Conformidade, Conselho de Ética e Assembleia para falar sobre isso. Não sou expert no assunto, mas te digo que sou candidato.

Parte desses órgãos se submete à estrutura do COB onde o senhor manda.

Não mando, não. Existe um procedimento de governança que está no Estatuto. Eu simplesmente obedeço. Quero a justiça para lá, mas preciso que a justiça seja para cá também. Estou dentro da conformidade e não estou deixando de obedecer nenhuma regra.

Desde 2014 o Estatuto tem cláusula que restringe os mandatos de presidente. Você está na segunda reeleição?

É a minha primeira reeleição, sem dúvida.

O senhor já não cumpriu seus dois mandatos?

Essa é uma discussão que vocês estão colocando. Não tenho essa dúvida e se a dúvida, por um acaso acontecer, algum procedimento no sentido contrário, quem analisará e definirá a matéria são os Comitês de Integridade e Conformidade, Conselho de Ética e a Assembleia Geral (NOTA DA REDAÇÃO: Wanderley teve candidatura aprovada internamente).

Em entrevista ao Globo, em 2017, logo após assumir a presidência, você afirmou: “Fui eleito para a presidência, e isso envolve o presidente e vice. Então, estou no meu primeiro mandato e teria direito a uma reeleição.” Por que mudou de opinião?

Não mudei, não fui eleito presidente, fui alçado à condição de presidente por vacância do cargo, uma questão administrativa. Tinha de assumir.

Após promover tantas mudanças, principalmente no Estatuto em 2017, um marco histórico, arrumar brechas jurídicas não é ruim para o senhor?

Não acho, não. Tenho convicção da proposta que está sendo feita. Meu objetivo é o esporte, o olimpismo, é avançar e consolidar o que foi feito. E vamos combinar que foi bem feito.

Se reeleito o COB pode não receber verba pública. Você teme que isso ocorra?

Absolutamente nenhum temor, nenhuma preocupação com isso aí.

Por que?

Porque não está explícito em lugar nenhum, nem na Lei Pelé, nem na Lei Geral do Esporte. Estou cumprindo as normas, temos todas as condições legais e obedecemos todas as exigências estatutárias. Não tenho como temer isso aí e não vai acontecer.

Está na lei sim…

Podem ter opiniões a respeito, mas tenho a convicção que não. A questão se pode ou se não pode, é com o Jurídico, não entendo disso aí. Deixa o pessoal que acha que não pode reclamar. Quero consolidar tudo o que fizemos. Reforçar os pilares da austeridade, transparência e meritocracia. É com isso que trabalho. A questão jurídica é com o pessoal que tem expertise. Quem se sentir prejudicado que recorra.

O senhor disse que tem certeza que o corte de verba pública acontecerá. Por que? Tem aval do ministro do Esporte?

Não tenho condições de responder isso a você. Falo o que você quiser saber, mas sobre a questão jurídica, não.

Essa é uma questão política. O senhor tem o apoio do ministro?

O ministro não tem de me apoiar ou ser contrário a mim. Ele faz o que tem de fazer no ministério e eu faço o que tem de fazer no COB.

Então qual o indicativo de que a verba não será cortada?

Convicções pessoais.

Se acontecer, o que o senhor fará?

Isso é elucubração. Deixa chegar para a gente ver o que faz.

O senhor esteve com o Fufuca? Pediu apoio a ele?

Ele nos visitou em Paris durante os Jogos Olímpicos e tem as visitas institucionais.

Vocês falaram sobre a eleição?

Não misturo essas coisas. Ele não se pronuncia em relação a mim e eu não me pronuncio em relação a ele. Conversamos quando é esporte, eventos, projetos e ele nos atende muito bem.

O Globo questionou o Ministério do Esporte sobre a eleição e via nota a pasta disse que recebeu uma consulta do COB e que está analisando o conteúdo. Que consulta é essa?

Não faço ideia. É preciso falar com o Jurídico. Pode ter acontecido? Pode.

Toda a sua candidatura está envolvida em questões jurídicas e não tem como fugir…

Sim, e o Jurídico que vai resolver, não sou eu.

Mas o senhor não fica constrangido?

Tenho tranquilidade do que estou fazendo, tenho segurança. Não tenho preocupação com estas questões. Falo de Esporte, de trabalho e realizações.

Trabalho e realização dependem de investimento. Minha pergunta é…

Por falar em dinheiro e governança, recentemente conseguimos a certificação ISO 9001, um selo de reconhecimento internacional que atesta o compromisso com a qualidade e a melhoria contínua dos processos da entidade. Procura ver quantas entidades no Brasil tem essa certificação. E recentemente conquistamos patrocínio da Caixa Econômica Federal.

O COB está acima da lei?

De jeito nenhum. Mas vou reforçar que questões jurídicas não sou eu que vou responder, nem fazer defesa, nem ataque.

Você consultou presidentes de confederações para compor sua chapa e obteve algumas negativas justamente por causa da insegurança jurídica. Você teve dificuldade para fechar seu vice?

Em absoluto, a Confederação Brasileira de Taekwondo estava em situação bastante difícil de governança antes do Maciel Júnior (Alberto) que a sanou, classificou atleta para a Olimpíada, foi secretário de Esporte do Estado (Amapá), uma pessoa competente, capacitada e idônea. Não tive objeção em relação ao nome dele.

Me referia a outros dirigentes não quiseram compor sua chapa e o senhor manteve o atual vice.

Quem falou isso? Não teve isso.

Quantos votos o senhor tem? Está confiante?

Também estou curioso. Mas disso não falo. Voto é voto, só quando tira da urna.

Falando de Paris, do desempenho abaixo do esperado. Você acha que esta participação mostra que estamos estagnados?

A diferença de medalhas de Tóquio para Paris foi de apenas uma, certo? E quantos eventos top, do movimento olímpico, tivemos neste ciclo? Quatro. Dos quatros, três superamos o resultado. Isso é ruim?

Foi no evento principal…

Não, o principal, não. É uma cadeia. Estamos dentro da média alta, não houve retrocesso. Esse foi o segundo melhor resultado histórico em Olimpíadas. Não considero ruim. Tivemos 20 medalhas no total e 11 atletas disputaram medalha e poderiam ter sido medalhistas. Ao invés de 20, teríamos 31 medalhas. É Olimpíada, gente.

Pioramos em relação a Tóquio…

Mas fomos melhor do que no Rio, com a maior delegação da história. Nós subimos o patamar, essa é a verdade.

Quais propostas tem para o ciclo 2028?

Melhorias de governança e programas de apoio às Confederações. A criação do programa Top COB veio deste novo contrato com a Caixa Econômica Federal. Será injetado diretamente nas Confederações e consequentemente nos atletas e equipes. E esse recurso é novo. Além disso, vamos assinar convênio com o Centro de Formação Olímpica do Ceará, com o Centro Olímpico em São Paulo, oferecer às confederações a oportunidade de seleções permanentes ou semipermanentes e trabalhar a base do esporte para reposição na alta performance.

Como será o trabalho com a base?

Uma das nossas propostas, o Conexão Lima tem como foco os jovens atletas. Será uma extensão do que foi o bem-sucedido Conexão Santiago (trabalhou atletas para o Pan de 2023). Aliás, nos dois últimos Jogos Pan-Americanos em 2023 e 2019, conquistamos o maior número de medalhas e as melhores colocações da história.

Como funcionará o TOP COB?

Foi criado para destinar um percentual fixo da arrecadação com patrocínios para as Confederações. Esses recursos serão transferidos mediante planos de trabalho e em linha com o que o Comitê Olímpico Internacional já adota com os Comitês Olímpicos Nacionais.

O senhor pode explicar sobre os convênios que pretende firmar com o Centro de Formação Olímpica do Ceará e com o Centro Olímpico, em São Paulo? Outros centros também serão alvo?

O Time Brasil passará a contar com mais um Centro de Treinamento. O Centro de Formação Olímpica do Ceará é um polo moderno visando o aprimoramento de talentos já para o próximo ciclo olímpico. A ideia é que ele seja a casa do COB no Nordeste e mais um local para que as Confederações se reúnam. A intenção é levar a excelência do esporte olímpico brasileiro para as regiões Nordeste e Norte já a partir do ano que vem. Como aconteceu com o Conexão Santiago, os atletas juniores que se classificaram se prepararam com apoio do COB e das Confederações para os Jogos de Paris tiveram sucesso.

E quais as melhorias na governança destacaria?

Uma das iniciativas foi o Programa Gestão, Ética e Transparência (GET) e que foi ampliado durante o ciclo de Paris, com a inclusão das Confederações Brasileiras Pan-Americanas e Universitária. Recentemente, o COB conquistou a Certificação ISO 9001 e nosso compromisso é mantê-lo. Importante lembrar que fizemos um forte trabalho de recuperação da imagem e reputação após a suspensão imposta pelo COI em 2017. E o COB alcançou recorde de patrocinadores no ciclo Paris. O número de empresas subiu de 6 para 22. Além destas, uma série de parcerias de licenciamento e institucionais também foram fechadas neste ciclo aumentando não só a receita da entidade como seu reconhecimento enquanto marca. Tudo isso contribuiu para a receita de patrocínios crescer 234%.


BS20241002100021.1 – https://oglobo.globo.com/esportes/noticia/2024/10/02/paulo-wanderley-diz-ter-certeza-de-que-se-reeleito-cob-nao-sofrera-corte-de-verba-publica-conviccoes-pessoais.ghtml