O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou nesta terça-feira que há indícios de distribuição de bebidas alcóolicas adulteradas com metanol além do estado de São Paulo. A Polícia Federal abriu inquérito para investigar essas notificações.

Desde o início do ano, São Paulo teve 17 casos suspeitos de intoxicação por metanol. Dez deles foram computados neste mês, o que reforça a hipótese de contaminação recente. Três pessoas morreram.

A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça considerou o número recente de notificações “fora do padrão para o curto período de tempo”.

— Considerando nossa ocorrência, que do nosso ponto de vista é grave, nós determinados ao diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, que abrisse um inquérito policial para verificar a procedência dessa droga e a rede possível de distribuição, que, ao que tudo indica, transcende os limites de um único estado. Tudo indica que há uma distribuição para além do estado de São Paulo, o que atrai a competência da Polícia Federal — afirmou Lewandowski.

Suspeita de ligação com o crime organizado

O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, afirmou que o inquérito foi aberto na segunda-feira e que há suspeita de conexão com o crime organizado e operações passadas. No último mês, a PF participou da Operação Carbono Oculto, deflagrada pela Receita Federal e forças policiais, que mira esquema do Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de combustíveis em São Paulo. Ainda não há informações sobre adulterações fora de São Paulo.

— Há possível conexão com investigações recentes que fizemos agora, em toda cadeia de combustível (…) Agora, a investigação dirá se há ligação com o crime organizado e operações interiores — disse Andrei, acrescentando que a PF vai trabalhar na investigação junto à Polícia Civil de São Paulo.

O metanol era justamente a substância utilizada para adulterar os produtos comercializados nos postos de gasolina sob influência da facção, segundo nota da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF).

Neste momento, a investigação da PF busca os locais onde aconteceram essas intoxicações. Todos os estabelecimentos localizados começarão a passar por fiscalizações. O número de bares não foi informado.

Plano de ação do governo

— Esse tipo de intoxicação foge dos padrões comuns. Normalmente, a ingestão de metanol ocorria com relação a pessoas em situação de rua ou em vulnerabilidade. Houve uma mudança de padrão a partir de setembro, quando verificamos que essas intoxicações passaram a acontecer em bares e restaurantes sobretudo em São Paulo — declarou o ministro da Justiça.

No sábado, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) emitiu uma nota técnica aos estabelecimentos que vendiam as bebidas alteradas com cuidados necessários para evitar novas intoxicações, como os sinais que os produtos adulterados podem apresentar. Além disso, na segunda-feira, a Senacon emitiu nota aos Procons de todos os estados com normas de como lidar com a situação.

— Eles têm a capacidade de comunicar os consumidores e os estabelecimentos. Teremos um radar se esses casos vão se espalhando para outros estados — afirmou o secretário nacional do Consumidor, Paulo Pereira.

Já o Ministério da Saúde deverá encaminhar nesta terça-feira uma nota técnica às redes de saúde sobre a vigilância dos casos suspeitos.

— Hoje vamos mandar nota sobre intoxicação, sobre vigilância de casos suspeitos. quando deve suspeitar, quais são os sinais, sintomas clinicos — afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Casos de intoxicação em São Paulo

Os casos alarmaram as autoridades, levando a uma corrida para investigar a origem da contaminação e alertar a população. A situação se difere de casos anteriores por ocorrer em ambientes sociais e envolver diferentes tipos de bebidas alcoólicas, como gin, uísque e vodca.

Segundo o Ministério da Saúde, há suspeitas em cinco municípios de São Paulo. Além da capital, Limeira, São Bernardo do Campo, Itapecerica da Serra. Uma das cidades não foi informada.

O óbito mais recente foi confirmado na segunda-feira. A vítima é um homem de 54 anos, morador do bairro da Mooca, na Zona Leste da capital. Ele apresentou sintomas em 9 de setembro e morreu no dia 15, mas apenas agora o caso foi associado à onda de intoxicações.

BS20250930162920.1 – https://extra.globo.com/brasil/noticia/2025/09/pf-abre-inquerito-sobre-metanol-em-bebidas-e-suspeita-de-distribuicao-alem-de-sao-paulo.ghtml