POLÍTICA
Tarcísio vira alvo de críticas de aliados por falta de apoio na eleição
30 de outubro, 2024 / Por: Agência O GloboEngajamento do governador nas campanhas de PP, União, PL e do próprio Republicanos gerou insatisfação entre partidos da base
Nem tudo são flores para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) após a vitória expressiva dos partidos de sua base aliada nas eleições municipais de São Paulo. A inconstância no apoio dado por ele a candidatos de siglas como Progressistas, União Brasil, PL e do próprio Republicanos gerou insatisfação entre os seus integrantes. Outra reclamação passa pela dedicação de Tarcísio à disputa da capital, onde Ricardo Nunes (MDB) foi reeleito em segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL).
Na avaliação de um dirigente partidário, de forma reservada, Tarcísio precisou se equilibrar em uma “base ampla e instável” de legendas que compõem o seu governo e das quais quer apoio para 2026. O governador evitou entrar em “bolas divididas”, em especial com o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro. Sem um posicionamento claro sobre as escolhas no interior do estado, a disputa abre rusgas políticas e demanda atenção do Palácio dos Bandeirantes.
Fator Kassab
Apesar de três das quatro siglas citadas terem ampliado o número de vitórias no estado, o melhor desempenho nas eleições ficou com o PSD de Gilberto Kassab, que também é secretário de Governo de Tarcísio. A sigla triplicou o número de prefeituras, de 66 para 206, entre um pleito e outro. Boa parte da fatura se deve à atração de governantes de primeiro mandato, sobretudo do PSDB, nos últimos quatro anos. O cenário gerou acusações de que Kassab estaria usando a interlocução do cargo com os prefeitos para engrossar as fileiras do PSD, o que ele nega.
Segundo a colunista do Globo Bela Megale, o governador pretende reagir às críticas conversando pessoalmente com líderes dos partidos nos próximos dias e explicando as decisões eleitorais. Tarcísio já admitiu nos bastidores que a postura gera mágoas, mas acredita que pode reverter o desgaste interno.
Antes mesmo do segundo turno, o senador Ciro Nogueira (Progressistas), presidente nacional do partido, declarou que estava “extremamente decepcionado” com a atuação de Tarcísio nas eleições no interior do estado, crítica que o cacique repetiu ao Globo. Na opinião dele, o governador teria dividido a direita “em vários lugares”.
Uma das principais queixas se deu em Guarujá, no litoral de São Paulo. Tarcísio decidiu apoiar o ex-prefeito Farid Madi (Podemos), que venceu em segundo turno contra o candidato do Progressistas, o vereador Raphael Vitiello. Antes, o Republicanos estava coligado com o policial militar Nicolaci (PL), terceiro colocado. O entorno do governador rebate as críticas destacando apoios ao PP em cidades como São Carlos, conhecida pelo seu polo tecnológico e que deu a vitória ao advogado Netto Donato.
Fora do jogo
O incômodo no União Brasil, por sua vez, passa por disputas em cidades como Jundiaí. Tarcísio fechou com o candidato governista José Parimoschi (PL), que perdeu no segundo turno para o atual vice-prefeito da cidade, Gustavo Martinelli (União). Há também a leitura de que o governador poderia ter se empenhado mais na campanha do deputado estadual Átila Jacomussi (União) em Mauá, no ABC paulista; o parlamentar acabou derrotado pelo prefeito reeleito Marcelo Oliveira (PT).
Com o Republicanos, houve casos em que Tarcísio optou pela neutralidade mesmo com candidatos do partido bem posicionados, como em Santos e Sorocaba. Tarcísio se manteve neutro no pleito devido à presença candidatos do PL nas disputas. Apesar disso, de maneira geral, dirigentes do Republicanos consideram que o saldo da eleição foi positivo e que Tarcísio contribuiu para a sigla ampliar o número de prefeituras de 23 para 82 em quatro anos.
No caso do PL, a principal reclamação se refere ao relato de que Tarcísio teria desistido de ingressar no partido, e não tanto aos posicionamentos do governador nas eleições municipais.