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Trend do desodorante: morte de menina de 8 anos no DF joga luz sobre o perigo de desafios on-line

15 de abril, 2025 | Por: Agência O Globo

Caso é investigado pela Polícia Civil; suspeita é que Sarah de Castro tenha inalado aerossol estimulada pelo TikTok

Sarah Raíssa Pereira de Castro, de 8 anos, morreu após inalar desodorante — Foto: Reprodução

A Polícia Civil do Distrito Federal abriu inquérito para investigar a morte da menina Sarah Raíssa Pereira de Castro, de 8 anos, no domingo, em um caso que chamou a atenção para o perigo dos desafios online virais para crianças e adolescentes. Raíssa estava internada desde quinta-feira no Hospital Regional de Ceilândia e teria participado de um deles.

A menina foi encontrada em sua casa desmaiada com um frasco de aerossol na mão. A suspeita da polícia é que ela tenha inalado o produto estimulada pelo “desafio do desodorante”, um dos que são disseminados no TikTok (leia os principais e os riscos que trazem no box ao lado). Raíssa chegou a ser reanimada, mas sem apresentar reflexos neurológicos, teve a morte cerebral declarada.

A 15ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal vai tentar descobrir como Sarah teve acesso ao desafio e identificar os responsáveis por sua publicação. Eles poderão responder por homicídio duplamente qualificado (por emprego de meio capaz de causar perigo comum e por se tratar de vítima menor de 14 anos), crime que pode ser punido com até 30 anos de reclusão.

Há um mês, o “desafio do desodorante” vitimou Brenda Sophia Melo de Santana, de 11 anos, em Bom Jardim, no Agreste de Pernambuco. De acordo com a família, Brenda já havia sido advertida dos riscos, mas insistiu em inalar um desodorante.

A substância dos aerossóis, ao ser levada aos pulmões, cai na corrente sanguínea e chega ao coração, podendo causar arritmia e depois a morte. Um risco adicional é o teor de etanol em qualquer desodorante, até 90% maior do que o álcool em bebidas como o uísque ou o absinto.

Segundo o Instituto DimiCuida, que trabalha na prevenção de brincadeiras perigosas no mundo digital, de 2014 a 2025, ao menos 56 crianças e adolescentes com idades entre 7 e 18 anos morreram no Brasil por causa dessas práticas. Desde 2019, a Organização Mundial da Saúde classifica os “jogos perigosos” como um distúrbio comportamental. Segundo a OMS, esses desafios têm um padrão de jogatina online ou offline que aumenta o risco de prejuízos à saúde mental ou física. Procurado, o TikTok não se pronunciou sobre o problema até o fechamento desta edição.

Trends preocupantes

A psicóloga Luciana Nunes, diretora do Instituto Psicoinfo, que pesquisa comportamento no mundo digital, explica que crianças e adolescentes geralmente entram nas trends em busca de pertencimento.

— Há um impulso e falta de senso crítico, especialmente na primeira infância. Esses desafios são gamificados, exige-se que sejam filmados e geram engajamento — alerta Nunes.

Em entrevista à GloboNews, a secretária de Direitos Digitais do Ministério da Justiça, Lilian Melo, defendeu a criação de um espaço de denúncia de crimes como este e disse que a pasta planeja desenvolver um aplicativo para restringir o acesso de crianças a conteúdos inadequados na internet.

— A nossa visão é ir além de uma verificação etária em autodeclaração, que aparece uma janela com a pergunta “você tem 18 anos?” Se uma criança de 12 anos diz “tenho”, ninguém faz mais nada, é muito insuficiente — afirmou.

O Ministério da Justiça já compartilha um guia sobre como proteger crianças no TikTok. O app possui um sistema de pareamento familiar que permite que responsáveis monitorem o perfil dos adolescentes. Mas o supervisionado precisa ter entre 13 e 17 anos.

Para ativar o sistema, basta ir na aba “configurações e privacidade” e selecionar a opção “pareamento familiar”. É possível também definir o tempo de tela na rede social. Com isso, usuários de 13 a 15 anos não têm permissão de enviar ou receber mensagens diretas.

Brincadeiras fatais

  • Desafio do desodorante: Inalar spray de desodorante por tempo prolongado pode causar parada cardíaca, intoxicação e até levar à morte. O risco aumenta pelo fácil acesso ao produto e pela ideia errada de que é inofensivo.
  • Desafio Euphoria: Inspirado na série “Euphoria”, estimula adolescentes a simular o uso de drogas, com solventes que podem irritar mucosas nasais e afetar o funcionamento dos rins, do fígado, da medula óssea e do sistema nervoso central.
  • Desafio do Apagão: Conhecido também pelo nome em inglês, Blackout challenge. Prender a respiração ou provocar asfixia até desmaiar. Pode causar danos neurológicos, convulsões e morte por sufocamento.
  • Trend do cotonete: Crianças e adolescentes usam as hastes flexíveis de limpeza pessoal como um “cigarro”. A combustão do algodão, plástico e papel pode causar asfixia, pneumonite (inflamação dos pulmões) e sangramento respiratório.
  • Desafio do quebra-crânio: Duas pessoas combinam de derrubar uma terceira ao fazerem com que ela pule. Elas e puxam suas pernas para trás, fazendo com que caia de cabeça no chão. Pode causar traumatismo craniano, fraturas e lesões na coluna.

BS20250415110235.1 – https://extra.globo.com/brasil/noticia/2025/04/trend-do-desodorante-morte-de-menina-de-8-anos-no-df-joga-luz-sobre-o-perigo-de-desafios-on-line.ghtml

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